terça-feira, maio 01, 2007

Passagem relâmpago por S.Miguel

Como já devem ter percebido , os Açores são , para mim , como uma segunda casa, uma segunda pele.

Desta vez, a ida foi a S.Miguel – Ponta Delgada , para um concerto com os GNR na Semana Académica , que deu algum trabalho para que tudo corresse bem.

E desta vez não ficámos instalados junto ao mar , no centro da cidade , mas sim num hotel novo , bastante confortável , o VIP Executive , que fica numa das zonas novas de Ponta Delgada ( num daqueles bairros novos igual a outro bairro novo de qualquer outra cidade :( ) .
O facto de estar rodeada de cimento novo , aliado ao mau tempo escuro e chuvoso , fez com que não me sentisse nos Açores ( ou não fossem as pessoas ).
Fiquei chocada com o brutal desenvolvimento da cidade e isto porque desenvolvimento em Portugal não é sinónimo disso , mas de como estragar uma cidade , como estragar um País ( hoje de manhã ouvi na Sic Noticias que alguém escreveu um livro sobre este tema : Como estragar um País – tenho que o ler ).
Ponta Delgada está a ficar descaracterizada e há obras na marginal para um porto de recreio , que segundo os micaelenses trata-se de um projecto muito à frente do da Madeira ou das Canárias , mas na verdade parece que vai tudo dar ao mesmo e qualquer dia chegar ao Funchal ou a Ponta Delgada será mais ou menos a mesma coisa. Ahrrrrrrr !
E os hoteis não param de crescer , assim como os apartamentos ( é chique ter um apartamento novo na cidade e eu a querer fugir da cidade ! ).
A ideia é cativar turistas para S.Miguel , mas assim , meus amigos , os turistas que vão chegar são aqueles que menos interessa ao País , tal como acontece passados 30 anos no Algarve.
E parece-me que esse turismo desinteressante também já se reflecte na noite da cidade , pois todos os bares de jeito que por lá haviam , estão convertidos em casas de alterne ( o viagra veio mesmo dar a volta à cabeça de muita gente ).
Enfim , Ponta Delgada deixou de ser um destino para mim ( deixou de ser Ponta para ser apenas Delgada) . Só mesmo em trabalho e mesmo assim há que arejar um pouco para não voltar a Lisboa desanimada.

Dos 14 elementos da comitiva que regressavam ao Continente no sábado , 3 de nós regressavam a Lisboa apenas no voo das 21.25h locais , pelo que alugámos um carro , pois era impensável ficar na cidade um dia inteiro , ainda por cima sem hotel a partir das 12h !
O cozido nas Furnas ( no Miroma , onde se continua a comer muito bem ) foi o nosso ponto de partida para um passeio bastante agradável .
Fiquei admirada com o surgimento de novas caldeiras e muito contente com o facto de todo o espaço à volta da Lagoa das Furnas estar agora bastante bem cuidado , como nunca tinha visto.
Desta vez dei , finalmente , a volta à Lagoa e isso foi o suficiente para regressar a casa de alma cheia.

Só espero que o tal desenvolvimento se fique por Ponta Delgada e que os demais lugares da ilha se conservem por muito tempo , sobretudo toda a zona das Furnas / Povoação / Nordeste e o litoral de Vila Franca do Campo.
Que não venham as febres das auto estradas que em pouco tempo poderão destruir toda aquela natureza virgem , tal como aconteceu na Madeira. Bem sei que os acessos são importantes até para quem vive na ilha , mas caramba , tempo é o que não falta por ali e se a viagem das Furnas a Ponta Delgada não se fizer em 30 minutos e se continuar a fazer numa hora , qual é o problema ?

Chamem-me “velha do restelo” , o que quiserem , mas os Açores só serão especiais enquanto forem aquele lugar verde e azul , tão puro , de suster a respiração.

PS :
O restaurante London , no centro de Ponta Delgada , junto à RTP , continua a ser um restaurante à moda antiga , acolhedor , com bom serviço ( o que é raro nas ilhas) e onde se come muito bem ( sobretudo a caldeirada de cherne e o gelado crocante ).
Já em S.Roque , o Cais 20 , continua aberto até altas horas da madrugada para matar a fome de belos petiscos , sobretudo a quem vai do Continente saudoso de umas belas cracas e de umas lapas ( embora estas , a maioria das vezes, sejam da Madeira e congeladas , pois ao que parece a bela lapa dos Açores agora só serve praticamente para exportação – vá-se lá entender tal coisa... ).

1 comentário:

Margarida disse...

Foi nos Açores, onde infelizmente só fui uma vez, que consegui tomar decisões que revolucionaram a minha vida de uma forma necesária e brutal... só naquele ambiente de verdadera luxúria da natureza, onde senti como somos frágeis e ridículos com as nossas mesquinhezes quotidianas é que consegui ter a frieza e distância para poder mudar...
Por favor não estraguem os Açores...