segunda-feira, dezembro 04, 2006

Papéis de memórias

De Maio de 1992 a Dezembro de 1995 trabalhei por conta própria , tendo-me instalado num gabinete do escritório de advogados do meu pai , na Rua Nova do Almada, 24 , 3º Dtº , bem ali , no centro de Lisboa , na baixa pombalina.
Foram três anos de momentos profissionais inesqueciveis , mas que coincidiram com três anos muito tristes da minha vida pessoal .
1995 foi um ano de decisões radicais – deixei a minha casa na Travessa das Freiras ( Feira da Ladra ) e por consequência o pai do meu filho e deixei de trabalhar por conta própria , pois tive que começar a minha vida a partir do zero , literalmente.
Por tudo isto , ficaram no tal gabinete da Rua Nova do Almada , todos estes anos , todas as pastas de correspondência , contratos ,recortes , enfim ... documentos do trabalho desenvolvido por mim na altura.
Nunca mais quis saber dessa papelada , nem mesmo quando até pude precisar dela. O corte foi definitivo.
Mas entretanto , o escritório ainda é alugado pela minha mãe e agora não só está cheio da minha papelada , mas também de um sem fim de documentos de trabalho do meu pai , alguns deles com mais de cinquenta anos ! E há que pôr um fim a este escritório. Não há como manter uma renda apenas para albergar papéis e memórias!
O desmantelar do escritório teve inicio esta semana , sem pressas , mas há que fechar este capítulo das nossas vidas.
Os meus papéis , com pó de cerca de 12 anos acumulado , já foram retirados do tal gabinete e este fim-de-semana estive a dar uma volta aos mesmos , tendo deitado para o lixo tudo o que era correspondência , mas não tive coragem de deitar fora os dossiers com os contratos e todas as demais pastas , com as quais acabei por me deliciar ( embora ainda só vá a um terço da tarefa ).
Na altura não tinha computador ( nem telemóvel ; na melhor das hipóteses um bip e só em meados de 95 ) . Apenas uma máquina de escrever electrónica , da minha mãe , que só podia ser utilizada quando esta não a estivesse a usar. E assim, dei por mim a olhar para minutas de faxes , riders , biografias , etc , tudo feito na tal máquina e manualmente com recortes daqui e dali. Demais:) Mas o mais curioso é que os conteúdos não diferem muito dos actuais , o que significa que a grande diferença prende-se de facto com a rapidez de trabalhar com um computador e de passar a informação via internet. Mas ao mesmo tempo , todo este facilitismo de comunicação com o qual já não sei viver , invade-me com mais informação , com mais trabalho , não permitindo que haja tempo , nem para respirar !
Na prática , o que faço hoje , fazia na altura , noutro ritmo , sem dúvida.
Hoje não me consigo imaginar sem a tecnologia da qual sou totalmente dependente e na época até ia para a estrada sem ter como contactar os meus colegas . Quando alguém tinha um problema na viagem e se atrasava , só restava esperar ... E situações destas ainda me transportam para tempos anteriores às auto-estradas , que para fazer um concerto em Trás-os-Montes o PA tinha que viajar de véspera, caso contrário o mesmo não era viável.
Pegar em papelada velha dá nisto ...

Encontrei ainda alguns projectos de luz feitos pelo Carlos , o que me trouxe à memória a forma como ele os fazia. Era tudo feito à mão com uma régua que tinha uns formatos idênticos aos projectores ou com recortes feitos a partir de fotocópias de projectores que ele trazia do escritório do Pedro Leston , que provavelmente nessa altura já tinha um computador para trabalhar . Eram noitadas e noitadas , ora com projectos para os Censurados , ora para os Xutos , ora para os Peste , ora para o Palma ... mas bom mesmo era ver o Carlos a operar estas bandas , nos seus tempos aureos e , francamente , os robots eram dispensáveis.
Espero que ele não se importe , mas hoje deixo aqui algumas memórias que encontrei do Carlos na “minha” papelada.





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