quinta-feira, junho 11, 2009

Macau , Junho 1999

Há 10 anos festejou-se o último 10 de Junho em Macau , sob administração portuguesa, com um concerto de Luís Represas , no recentemente inaugurado Centro Cultural. Foi a minha primeira visita a Macau e a Hong Kong . Rebusquei o álbum de fotografias dessa viagem e fiquei com uma saudade imensa , talvez porque nunca mais volte a encontrar “aquela” Macau e porque sinto falta do tempo em que havia tempo.


Como eu fui apêndice na viagem por ser a responsável pela venda e por tratar de todo o processo burocrático do espectáculo , tive todo o tempo do mundo para me passear por Macau enquanto os outros elementos da equipa trabalhavam ( mas afinal eu já havia cumprido a minha parte. Agora era a vez deles :) ).

Alguns registos...

Dia 9 Junho – 1º dia
Dia de ensaio no Centro Cultural.
Visita , pela manhã , às Ruínas de São Paulo e Museu de Macau.
Depois de almoço , passeio pela zona ribeirinha junto ao Centro Cultural e fim de tarde no Templo de A.Ma ( dos pescadores , junto ao Museu Maritímo).





Dia 10 de Junho – 2ºdia Passeio pela Rua do Campo / Leal Senado / Jardim de Camões e visita ao Museu Maritímo , na companhia do Luís.
Recordo-me de duas situações curiosas nesse dia :
- Os velhos passam as tardes nos jardins a jogar mahjong uns com os outros , mas não vão sózinhos. Cada um transporta uma pequena gaiola com um pequeno pássaro e ao chegarem ao jardim , penduram-na numa árvore ao lado das gaiolas dos pássaros dos seus amigos. E é lindo de ver o convívio entre os velhos ( gente sábia e respeitada pelos mais novos , ao contrário do que se passa deste lado do globo ) e entre os pássaros :)
- A barbearia é identificada por uma placa às riscas giratória. O Luís precisava de cortar o cabelo e foi numa ruela , na pior barbearia por onde passámos que ele fez questão de tratar do assunto. Ali não haveria certamente turistas e nem mesmo alguém que falasse inglês ou qualquer outra língua que não o cantonês ou o mandarim. Lá entrámos num cubículo , com espelhos de um lado e do outro e não mais que duas cadeiras de cada lado. O casal chinês muito se ria e fazia vénias e como o gesto é tudo, o homem lá entendeu que o cabelo era para cortar a pente um , o que para espanto do Luís , fê-lo com uma tesoura e um pente ( não tinha máquina ). Eu , enquanto esperava , lá ia vendo o mapa de Macau e divertindo-me imenso com a mulher do barbeiro , cada uma a comunicar com a outra na sua língua até que precisei de ir à casa de banho. Depois de ter conseguido que ela me entendesse , lá abriu a única porta existente para além da que dava acesso à rua. Era um outro cubículo – a casa de banho e ao mesmo tempo... a cozinha ! Fiquei abismada e fiquei anda mais abismada por me aperceber da higiene e organização em que ambas as instalações coexistiam. Por fim , o Luís lá cortou o cabelo e entendemos que afinal aquela barbearia era também a casa deles – de noite , encostavam as cadeiras e estendiam as esteiras onde dormiam. E assim se aproveita o espaço e se vive dignamente sem grandes meios financeiros. E ainda dizem que os chineses são porcos ! Eu queria ver um português a ter que viver sob determinadas condições, restrições...




Dia 11 de Junho – 3º dia
Mais um dia de passeio enquanto a malta trabalhava. Desta vez fui até às Portas do Cerco , Templo de Kun Iam , Jardim Lou Lim Ioc e muita caminhada por todas aquelas ruas à volta.
Á noite , concerto ...



Dia 12 de Junho – 4º dia
Com todos mais disponíveis , fomos passar o dia a Hong Kong na companhia da Fató.
Kowloon ( e visita obrigatória à Tommy Lee :( ) , daí apanhámos o barco para Vitória e passeio de autocarro até à zona balnear ( para quem tem coragem de tomar banho naquele mar ) : Stanley .
Regressámos a Macau ao fim do dia para um jantar bem português com arraial e tudo , pois afinal festejava-se o Santo António ! E houve quem não se fizesse rogado :/










Dia 13 de Junho – 5º dia
Passeio com a Phoebe de manhã a um templo muito pouco divulgado , perto do Leal Senado.
Á tarde , o meu primo Pedro ( diplomata , que na época estava em Macau ligado ao processo de transição ) encontrou-se comigo e com o Luís e levou-nos a dar um passeio por Coloane ( Praia Cheoc Van e Largo de S.Francisco Xavier , onde há uma série de óptimos restaurantes , um ponto obrigatório de passagem para quem vai a Macau ) e à Taipa.






Dia 14 de Junho – 6º e último dia :(
O Girão já não aguentava mais a comida local, embora ele tenha andado quase sempre a comer em restaurantes de comida portuguesa ! O Luís e eu lá o convencemos a almoçar connosco no chinês em frente ao Hotel Beverly onde sempre fomos muito bem tratados :) O grande argumento é que iríamos pedir um pato à Pequim , o que sem molhos não lhe faria mal nenhum. Assim , chegámos os três ao restaurante e encomendámos o almoço : os pratos que o Luís e eu queríamos provar e o pato à Pequim para o Girão. Quando o Luís e eu já estávamos bem refastelados com a nossa refeição e enquanto o Girão continuava cheio de fome , começámos a ver chegar uma mesa com rodas , transportando um pato inteiro , cozinhado , é claro ! Seria para nós ?! Era mesmo , o pato estava ali mesmo ao pé de nós e para nós ! Os risos soltaram-se e não apenas na nossa mesa. Os chineses à nossa volta muito se riam ( mal sabíamos nós o porquê ) ! “Um pato inteiro”? A empregada chinesa , muito simpática, sempre sorridente , começou a tirar a pele ao pato e deixou em cima da mesa um prato com as peles bem tostadinhas e outro com os crepes e desapareceu com o pato ?! “ Ó Girão , parece que o pato à Pequim são só as peles e os crepes” , disse eu. O desgraçado lá comeu as peles , pagámos a conta e fomos embora , deixando uma sala cheia de sorrisos que não entendemos até que nos explicaram que os verdadeiros patos fomos nós ! É que o pato voltou para a cozinha para ser cortado e nós nem esperámos pela carninha ! Excusado será dizer que o Girão ficou todo o dia agarrado ao estômago e nem saiu para o jantar de despedida em Coloane...
O Luís e eu ainda aproveitámos a tarde para visitar o Farol da Guia , ir a uma casa de chás e fazer as compras finais.






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