quinta-feira, novembro 20, 2008

O passado que não se arranca

“ O passado foi lá atrás “ e tantas vezes fazemos por nos esquecer dele para poder viver cada novo dia. E cada novo dia vai-nos endurecendo , porque tem de ser , para haver força para continuar. Mas o passado está cá , agora , no futuro , sempre. Não pode ser arrancado.

Acabo de (re)ler as últimas cartas do Carlos , pois ando a tratar dos papéis para o processo de tutoria do Mário. E hoje , mais que nunca , sei que o Carlos adivinhava a sua morte .E hoje mais que nunca percebo que não devia ter evitado a visita do Mário a Caxias. Percebo que o Carlos não partiu em paz sem voltar a estar com o seu único filho , o seu único bem precioso, o único motivo que o prendia ainda à vida.

Acreditei que assim seria melhor , pois o amor do Mário pelo pai sempre foi grandioso , imenso ( por tudo de bom que o Carlos tinha para dar e aquele brilhozinho nos olhos de quem podia ter todo um futuro mágico nas mãos ) e não queria de forma alguma que o Mário o visse agonizar como eu vi . O amor do Mário pelo pai é eterno. Tal como o amor que um dia senti pelo Carlos.

Talvez tenha sido um erro. Egoísmo ? Não vou por aí. Nunca quis o Mário só para mim e sempre me confortou o amor existente entre os dois ( apesar das ausências ) . Apenas quis resguardar a dignidade do Carlos e conservar intacta toda aquela admiração e paixão de um filho por um pai.

Hoje e agora sinto que posso ter errado ,sim, porque o Carlos esperou até ao fim pelo filho e o Mário nunca deixou , nem deixará de ter o pai presente em todos os dias da sua vida , de uma forma muito especial e sã.

Gostava que o Carlos pudesse entender , assim como eu tive que entender as suas escolhas.

A vida sorria-nos e um dia espero voltar a vê-lo sorrir.

2 comentários:

Keratina disse...

Deixaste-me arrepiada!
Mas decidimos na altura o caminho que nos parece mais certo, mais conveniente. Mesmo que depois com o amadurecimento que o tempo traz nos pareça diferente.
És uma grande mulher e uma grande mãe. Admiro muito a tua força!
Beijinho

yolanda disse...

Ana,
sempre q escreves sobre o Carlos, as lagrimas rolam-me pela face... tenho tantas saudades dele.... e acredita q ele sabe q tu sempre fizeste o melhor pelo Marinho... tu só quiseste proteger os dois, apenas isso...

talvez a gente se veja no domingo... senão ligo-te...
Beijos!!