sexta-feira, maio 02, 2008

Junto às Portas de Benfica


Todos os dias levo o Mário à escola , em Benfica , mas há muito tempo que não passava perto das Portas de Benfica . Esta semana , porque tive de entregar equipamentos na Alfasom , acabei por passar naquela zona algumas vezes , sempre de noite.

E , de repente , todos aqueles bairros ali à volta , que não são novidade para mim , despertaram-me a atenção. Tinha-me esquecido deles... ou durante todo este tempo quis esquecer-me deles.

Não me lembrava que mesmo ali , às portas de Lisboa , havia tamanho aglomerado de casas clandestinas ; havia tanta gente a viver em condições tão precárias ... apesar das antenas parabólicas que , neste caso, são mais um sinal do que é ser-se miserável ...

Quem vem da Pontinha para a Venda Nova , pode constatar que muita construção ilegal já foi deitada abaixo e que muita outra virá abaixo. Para dar lugar a quê , não sei , mas provavelmente serão mais uns edifícios com muitos andares , sem espaços verdes ou de lazer à volta...para não destoar do resto ...

E pensar que , não há tanto tempo assim , todas estas freguesias dos arredores de Lisboa eram belos campos , com quintas , onde ainda nos anos 50 se ia buscar leite acabado de ordenhar , dá-me um aperto no coração. Como foi possível , em tão pouco tempo , substituir a natureza e a vida rural , por um monte de cimento e tijolo sem nexo, envolto em verdadeiras lixeiras ?

Explicações existem , desde o natural crescimento da cidade e da construção desenfreada em prol da modernidade , à emigração vinda de África , mas sejam elas quais forem , não justificam o ter-se permitido que isto chegasse ao que chegou.

E passei por ali como se fosse a primeira vez , como uma verdadeira “alien” , sentindo-me tão distante de um mundo que afinal é também aquele em que vivo ! E que me choca deveras, pelo confronto cultural ( no sentido lato da palavra cultura ) .

Mas passar as Portas de Benfica , o Bairro 6 de Maio , a Venda de Nova e depois todo o caminho de volta à Pontinha na companhia do Mário , tal como aconteceu anteontem , fez-me sentir todos estes lugares de forma diferente ; sem preconceitos , de coração aberto , como só o Mário consegue sentir :)

Já no Bairro 6 de Maio , passámos por um grupo de crianças descalças e vestidas com farrapos velhos , mas o que o Mário viu foi “ olha mãe , meninos a jogar futebol na rua ! “. E como eles sorriam...

E por todo o lado, inclusive nas recuperadas Portas de Benfica, graffitis . “ Mãe , isto é que é arte urbana “. E com esta, até me enganei no caminho e entrei pelo bairro da Brandoa adentro , onde nunca havia estado e de onde não foi fácil sair por causa dos sentidos proibidos, mas aí a descontração já era tanta que fomos parando e perguntando a quem passava na rua qual o caminho para chegar à Pontinha ( o meu ponto de referência para seguir caminho para casa).

Nessa noite, cheguei a casa com outra perspectiva da coisa. E não há dúvida que o preconceito é um problema de choque cultural . E à medida que aqui fui escrevendo , mais certa disso fiquei.

2 comentários:

são branca disse...

Esta vidas entraram há muito tempo na minha ou a minha fez-se delas, não sei bem. Em nenhuns outros lugares e em muito pouca outra gente encontrei calor e solidariedade tão verdadeiros.

ines disse...

Ola aninha=)
depiis nao te ter dito nada durante estes longos tempo, mas tenho andado de um lado para o outro.
Recebi hoje a tua mensagem e disse de hoje nao passa, tenho que responder á Ana(que ate parece mal nao lhe dizer nada).
Comigo esta td mais ou menos, e contigo? o Marocas como vai(estou cheia de saudades dele).
Espero que ele esteja melhor do braço(sim eu sei do braço venho aqui ao teu blog de vez em enquado para saber coisas de voces).
Beijinhos muito grandes gosto muito de voces
Ines Sofia Santos(amiga do Mario da voz do operario) xD