domingo, abril 13, 2008

Sentir

Até há uns anos atrás , só pela altura do Natal , chegava aquela avalanche de pedidos para concertos de solidariedade , daqueles cuja fórmula está mais que gasta , são sempre um “flop” e com os quais não há qualquer receita , bem pelo contrário... daqueles que nunca acontecem em prol do que supostamente está em causa.

Mais recentemente , esses pedidos passaram a ser diários e eu confesso que , não só porque estou assoberbada de trabalho , mas porque realmente a grande maioria é uma grande charlatice , de falsos moralismos e de gente que não se quer mexer para nada , cada vez que entra no meu mail um pedido deste tipo , parece que a mostarda me sobe ao nariz. E grande parte das vezes , tenho mesmo que ignorar.

No entanto , em 2003 fui contactada pela APPADCM do Fundão , através de uma pessoa que senti interessar-se efectivamente pelos jovens deficientes com quem partilhava o seu dia a dia naquela instituição . Fernando Oliveira.

O projecto , a ideia , o convite , era diferente.

O Fernando tinha feito umas fotografias com os “seus” jovens e a ideia era recolher uma frase ou um pequeno texto sobre o sentimento que a mesma representava. O convite foi dirigido à Mafalda Veiga e ao Pedro Abrunhosa. A finalidade era editar um livro com essas fotografias e respectivos textos por altura do Natal , de forma a angariar alguma verba para ajudar a desenvolver outros projectos na Instituição e ao mesmo tempo mostrar o lado afectivo ( e não o institucional ) sobre a vida destas pessoas com deficiência.

Gostei do projecto. Envolvi-me no mesmo. Participei , como mãe do Mário. E , por fim , comprei uma série de livros para oferecer no Natal.

“Para além das imagens... para além das palavras “
http://appacdm-fundao.blogs.sapo.pt/2764.html


A fotografia do Fernando Oliveira que escolhi foi esta ...


...e o que me saiu em palavras ...

Lembro-me , de repente , da primeira vez que o Mário conseguiu beber água de um copo pelas suas próprias mãos ... mãos essas que na altura estavam ainda muito fechadas e que , como até hoje , tremem muito.

De seguida , lembro-me de quando voltou a esboçar um sorriso ... e de muitas outras vitórias lentas , mas que ao longo do tempo o foram tornando um miúdo mais independente , mais sociável...

Acreditar , mas acreditar nele , foi essencial , pois ele também acreditou.

O Mário nunca iria andar , nem falar. Até hoje não sei concretamente qual a doença do Mário , mas sei que ele anda , fala e faz uma vida normal ( com algumas limitações , umas mais marcantes que outras ).

Ele é feliz. Eu sou feliz. Ele cresceu e eu cresci com ele.

Um simples gesto , um simples dar a mão , pode ser a chave de um mundo por descobrir.

1 comentário:

Keratina disse...

É um miudo inteligente, com sentido de humor e um sentido de oportunidade como raramente se vê.
Uma beijoka