domingo, abril 13, 2008

É normal ...

Como todas as quintas feiras , o Sr. António foi buscar o Mário à escola para o levar à natação, mas desta vez havia um queixume de uma dor no braço que de forma alguma foi motivo para faltar a esta aula. E , assim , por teimosia , o Mário lá foi para a aula de natação que teve de ser interrompida , porque aquela dor no braço passou a tornar-se preocupante ... foi aumentando e a mobilidade e coordenação piorando a olhos vistos.

Preocupado , o Sr. António ligou-me , decidido a levar o Mário ao hospital , com o que concordei ,pedindo à minha mãe que o acompanhasse , visto eu estar no escritório e a uma distância maior do hospital. Não fiquei em pânico , como é habitual , porque conversei com o Mário e o discurso dele até me deixou admirada. A conversa fluiu ... “ ó mãe , isto é normal quando se joga futebol “ . Mas tens dores ? Perguntava eu. “Sim, mas é normal “. Quando percebeu que ia ter mesmo que ir ao hospital , quis saber para qual e eu disse-lhe que ia para o Curry Cabral. “ Não gosto nada desse hospital. Sei muito bem o que fizeram ao meu avô nesse hospital “. O meu coração ficou pequenino e tranquilizei-o dizendo que estava lá o irmão do João Martins. “ Ah , assim está bem “.

Pois não esteve nada bem ,porque o irmão do João não estava de serviço, apesar de ter sido um querido , atendendo as minhas chamadas e fazendo um alerta para os colegas de serviço receberem o Mário tão breve quanto possível.

O Mário foi atendido rapidamente , mas não lhe deram nada para as dores e , pelo telefone , fui-me apercebendo que aguardava o raio X há já um tempo,pois houve uma quebra de energia e só um serviço estava a funcionar ! Aí , abandonei tudo e fiz-me ao trânsito , em plena hora de ponta , com o coração nas mãos.

É que a sua agonia era cada vez maior e alguma coisa tinha acontecido ao braço do meu filho , mas o que me preocupava mesmo eram as dores e a ausência de medicação para as mesmas ! Isto , porque o Mário reage à dor aguda tal como à febre , de forma muito peculiar , devido ao seu problema neurológico. Não entra em convulsão , mas fica com os movimentos totalmente descoordenados , com o olhar prostrado ... uma agitação indescritivel. E eu temia o pior...

Cheguei à urgência e não me deixaram entrar na sala de raio X onde ele já estava com a minha mãe.Mas foram muito poucos os minutos para ver a minha mãe a sair da sala desesperada. Aconteceu tudo que eu previa e mais ainda. O Mário chegou mesmo a desmaiar no raio X ( mais tarde disse-me " vi tudo aos bocados " ).

Substitui de imediato a minha mãe e não deixei mais o meu menino , apesar de ter sido impedida de o acompanhar , o que óbviamente ignorei , de forma implacável.

O ortopedista que o atendeu nem me quis ouvir. Encaminhou o Mário para os colegas de medicina e por muito que eu tenha explicado qual a medicação a administrar para tranquilizar o Mário , preparavam-se para um interrogatório extenso sobre a doença neurológica do Mário.

Foi preciso por os pontos nos is. Calma e muito segura disse que o meu filho não estava na urgência para tratar de qualquer problema neurológico ,pelo que não ia esperar por neurologista nenhum. Ele tinha que ser observado em ortopedia , mas para isso tinham que medicar o Mário com paracetamol para as dores e de imediato com diazelpam ( medicamento que exige um protocolo xpto ) para que outro episódio não se repetisse e ele pudesse acalmar. E por incrível que pareça , o único médico que foi sensível ao meu pedido , aos meus argumentos , foi um interno ( bem charmoso ) com pronúncia do norte ( e do FCP ) que acabou por me dizer “ tem mesmo que ser , não é? Até para que ele consiga repetir o raio X “. Mas é claro!

E os medicamentos foram administrados e o Mário foi-se sentindo mais confortável , conseguindo repetir o raio X com a maior das tranquilidades. Foram 3 horas nisto ( e ainda a hora anterior em que esteve acompanhado pela avó ) , numa maca, num corredor da urgência, sempre a tentar minorizar a gravidade do problema , muito falador e a meter conversa com toda a gente e a cativar o carinho de alguns , daqueles que ainda não congelaram o seu coração.

O braço não estava própriamente partido, mas uma fissura no osso do pulso é uma realidade , tal como um braço imobilizado pelo menos durante 15 dias , tal como uma raiva estrapulada 24 horas mais tarde , por tudo aquilo que foi contido e porque a mobilidade ainda é menor do que a habitual.

Mário , é normal uma lesão provocada por uma queda num jogo de futebol. O que já não é nada normal é ter um monte de médicos sem conhecimento e sensibilidade para entender que não te podiam deixar a sofrer , por muito que se lhes tenha chamado a atenção para isso...

2 comentários:

Keratina disse...

Bem...não tenho palavras...em que Mundo estamos nós "metidos"?!
Um beijinho de melhoras ao Mário, e uma beijoka maior pra ti.

Margarida disse...

As melhoras do Mário! É íncrivel... já tive alguns episódios assim menos bons com os meus filhotes nos hospitais e continuno a não ter palavras e a ficar em fúria com estas coisas!