domingo, outubro 14, 2007

Fins de semana e um em especial

Dois fins de semana livres para disfrutar . Até parece mentira , mas sabe mesmo bem. Habituava-me fácilmente a esta vida de trabalhar aos dias de semana e ter o sábado e o domingo apenas para estar ... como me desse na real gana. Mas isto é sol de pouca dura. Para a semana recomeçam os dias de trabalho seguidos , sem um dia totalmente livre. É claro que é bom sinal ,pois caso contrário não tenho como pagar as contas ao fim do mês , mas ideal mesmo era poder pagá-las só com cinco dias de trabalho por semana...

Estes dias têm sido bons. Não faço nada de especial , pois nem sequer tenho vontade de pegar no carro para ir passear. É mesmo deixar-me levar pelo tempo e pela vontade. É desligar-me do trabalho e de todo o mundo à sua volta. É não estar de férias , o que acaba por ser também uma canseira , pois são sempre fora de casa. É , afinal , poder estar em casa , no meu espaço e lembrar-me do que isso é e ficar feliz por gostar tanto disso.

Esta manhã sou capaz de ter estado umas quatro horas de volta dos meus selos. Que raio de distração , dirão alguns . Mas não é que estar de volta dos meus selos , faz-me soltar os pensamentos que me atormentam , faz-me não pensar em tanto que tenho para resolver na minha vida e naquilo que poderia ser melhor e não é ? Eu adoro os meus selos :)

E gosto de ir ao supermercado e vir para casa , sem pressas , arrumar as compras e fazer uns petiscos. A sopa não pode falhar. A de hoje é de feijão verde , mas esta é uma sopa especial. Porquê ? Ora bem ... é que o feijão verde é de São Domingos de Carmões , da horta da Matilde...

Há já uns tempos escrevi aqui um post sobre tanta coisa que até hoje me prende a São Domingos de Carmões , uma freguesia do concelho de Torres Vedras , onde os meus pais tinham um casal ( casa com um pequeno terreno ). O casal de São José , onde passei belos tempos da minha infância e inicio da adolescência. Por causa desse post , no inicio de Setembro recebi uma mensagem de alguém que o havia lido e que conhecia algumas das pessoas de quem eu falava. Através dessa pessoa , que é das Carreiras ( onde , curiosamente , a Té tem uma casa há relativamente pouco tempo ) , consegui entrar em contacto com a Matilde , a quem prometi que havia de visitar em breve , já que há cerca de 25 anos que não nos víamos.E o breve que consegui foi cerca de um mês , nada mau , hein? Então ,no passado domingo à tarde , com a minha mãe e o Mário , lá me fiz à estrada , em direcção à terra que , apesar de estar a 40 minutos de Lisboa , nunca mais havia regressado...

Entrei em São Domingos de Carmões , vinda de Dois Portos , portanto pela parte debaixo da vila , de onde se avista a igreja , onde tantas vezes me impediram de tomar a hóstia. Está tudo muito bem arranjado e pintado de novo. A igreja de azul e branco , linda de tão simples. Em vez de seguir em frente para a casa da Matilde , quis passar no centro da vila ... a farmácia ainda lá está. A casa do povo ainda lá está , mas agora parece-me tão mais pequena que nos tempos em que a frequentava nas noites de bailarico. A tasca da vinhaça , mas onde eu ia comprar a gasosa e o tabaco para a Bézinha ( nome pelo qual o Sr. Joaquim recordou a Bé ) , estava fechada e não cheguei a perceber muito bem se já terá sido convertida num qualquer outro espaço. A mercearia do Sr. Manuel ainda lá está, embora fechada por ser domingo e ao que parece dirigida por uma senhora. E subindo mais um pouco , mesmo na esquina onde se vira à esquerda para a Carrasqueira e as Carreiras e à direita para a Perna de Pau ( direcção na qual virei ) , lá está a casa da qual guardo tantas boas recordações... ao passar junto ao portão lateral que dava para o jardim e para o telheiro, pude avistar nitidamente a horocária que a minha mãe plantou e que agora está linda e bem grande. Mais à frente , ainda lá está a capelinha e a mesa de pedra com os bancos de pedra . A Perna de Pau ainda tem a bomba de gasolina , mas já não tem os correios. E tudo isto não durou mais de 5 minutos , uma passagem bem fugaz de carro , sem sair do mesmo. É que no domingo , o que me levou àquela terra , foi poder abraçar a Matilde.

Finalmente parámos o carro , junto à casa da Matilde , que a minha mãe identificou e que eu julgava ser bem mais longe da estrada. Uma senhora sorriu para nós : “ sou a mulher do Helder “ . Tão querida ... e logo chegou a Matilde e o Sr. Joaquim. Entre este dia e o último em que nos vimos passaram 25 anos , de coisas boas e muitas outras tão dificeis! Mas somos as mesmas pessoas e o que nos vai na alma e no coração ninguém nos pode tirar, por isso foi um conforto voltar a estar com estes amigos.

Entrámos para a parte de baixo da casa, o ponto de encontro da familia e dos amigos da Matilde , que foram chegando a pouco e pouco e que a pouco e pouco fui reconhecendo... o Mário demorou um pouco a largar-me o ombro , mas quando o fez já se estava a sentir em casa e em familia. Domingo era dia de pamplona ( largada e pega de vacas ) , mesmo ali perto de casa e lá convenci o Mário a ir ver um pouco a pamplona. Lá foi comigo , mas não muito convicto. Não foram precisos 5 minutos para começar a chamar por esta e aquela vaca e o problema foi tirá-lo de lá !

A tarde foi passada naquele espaço , com cozinha , mesa com bancos corridos e um armazém de comezainas ( e muita caça acabada de trazer pelos homens da casa ; coelhos , perdizes... ) que começaram com lanche e acabaram com um jantar tardio. E as gentes iam passando e eu ia-me confortando ... o Helder , o Nelson , o Tio António , a Casimira, a Natércia ... e tantos outros amigos que fiquei a conhecer. Um ponto de encontro cheio de carinho. Um ponto de encontro cheio de benfiquistas ( salvo algumas excepções ) com quem o Mário viu o jogo na televisão , todo contente ao lado dos homens.

E o regresso a Lisboa fez-se de alma cheia e , é claro , com o porta-bagagens cheio de batatas , cebolas , melões , feijão verde , nabiças , nozes , enfim...são apenas 40 minutos de viagem e só espero ter mais uns fins de semana livres , para voltar a visitar aquelas pessoas lindas , de quem tinha mesmo muita saudade ( a matança do porco ficou prometida :) ).

2 comentários:

Margarida disse...

Também tenho tido uns fins-de-semamna mais ou menos assim... mais ou mesnos porque ainda há crianças muito pequenas cá por casa e agora com a volta à faculdade há sempre coisas para fazer... mas é bom saber que fico em casa ao meu sabor...
Aproveita bem!

joao carlos disse...

Boa noite,
Saí de carmoes e da perna de pau hà muitos anos, aliás fui lá criado pelos meus avós.Tenho voltado timidamente aos lugares que me lembro até que da última vez encontrei o António Malino e lembrei-me de uma noite nos idos de 60 em que o Rally Tap passou por ali e no café da Amélia um piloto desclassificado me ofereceu um anoraque tipo RDA fashion, cheio de autocolantes. Chamo-me João Carlos e hà algum tempo, muito longe daqui, em Timor, decidi que tinha que voltar, só que não sei muito bem quando nem como. Boa noite