quinta-feira, outubro 04, 2007

Aprender a estar de outra forma

Há 8 dias fiquei com a responsabilidade de comprar uma prenda para oferecer ao José Mário Branco , na noite de hoje , no Coliseu.
Há 8 dias que andava em sofrimento , não só porque o ritmo de vida que levo não me permite ter paciência para andar nas compras , mas porque também se tratava de uma oferta de grande responsabilidade por ser para o Mestre em questão.
Depois de uma visita frustada à Fnac do Colombo , que hoje em dia mais parece a feira do relógio , com os produtos expostos de qualquer maneira , sem grande opção de escolha para além do que é óbviamente comercial e sem qualquer tipo de atendimento especializado ou pelo menos afável e , depois de outra visita frustada à Livraria Francesa , despojada de conteúdos deveras interessantes , ganhei coragem e lá me desloquei ao Corte Inglês , onde detesto estacionar o carro ( mas teve que ser ).
Durante duas horas tive de me esquecer que tinha trabalho à minha espera no escritório e resolvi dedicar-me de alma e coração à tão árdua tarefa que me tinha sido entregue.
Tive a sorte de o fazer numa hora de almoço sem grande movimento e fui atendida por dois funcionários excepcionais , a Ana da secção de Música Clássica e o Michel da Livraria. Para além disso , contei ainda com a companhia da minha querida mãe que foi essencial para o retoque final , a caixa com o laço de seda onde colocámos as prendas.
Saí dali feliz por sentir que tinha encontrado o que entendia que o Zé Mário iria gostar. É que uma prenda só se dá se for sentida , pois caso contrário , não faz qualquer sentido.
Já à noite , esperei com alguma inquietação o momento em que o Zé Mário iria descobrir o que estaria dentro daquela caixa . E , sim , parece-me que afinal sempre tenho algum jeitinho para estas coisas.
Amanhã é outro dia. O da prenda do Palma! ( A do Fausto não foi da minha responsabilidade , mas foi a adequada e entregue na cidade invicta ). É que convidados tão especiais , exigem “noblesse” , com todo o prazer :)

E desta vez , o meu trabalho para estas produções do LADO A LADO foi um pouco diferente do habitual , visto que não sou road manager do projecto , que aliás está muito bem entregue à minha amiga Lena. Foi mais aquele trabalho de preparação no escritório , de confirmar que não escapava este ou aquele pormenor , de apoio nas acções de promoção, de opinar sobre o alinhamento , a disposição em palco , a iluminação , enfim... falta aquele lado prático no terreno , o que confesso ser estranho para mim e que me obriga a uma envolvência um pouco mais à distância. Mas tal posição acaba por ter o seu lado interessante...

Hoje pude acompanhar os três grandes mestres e ficar à mesa do restaurante quase até à hora de inicio do espectáculo , sem o habitual stress do dever de ter que estar no local com antecedência por causa dos detalhes finais. Hoje pude disfrutar da surpresa de poder comer cracas em Lisboa. Hoje pude ver parte do concerto da mesa de frente. Hoje pude estar um pouco mais com todos ou , pelo menos , com mais disponibilidade para todos. Hoje gostei de ver a Mafalda regressar ao Coliseu, ouvir o público a cantar com ela e no fim o seu sorriso. Hoje gostei de ver o João, pela primeira vez naquele palco. Hoje gostei de ver o Zé Mário , o Fausto e o Jorge numa partilha tão genuína e com uma sabedoria imensa. Hoje gostei de ouvir os músicos , com momentos brilhantes ( “Lembra-me um sonho lindo" , foi especial ) . Hoje gostei de ver as “minhas meninas” , cada vez mais senhoras do seu trabalho e a mostrarem que nestas coisas não são apenas os anos de experiência que contam , mas também a forma como nos envolvemos nos projectos. Hoje , curiosamente , estive menos ligada à técnica ( mas eles sabem o quanto confio no seu trabalho ). Hoje nem liguei ao catering . Hoje , depois do concerto , deixei-me ficar pelo bar do Coliseu e fui das últimas a sair. Hoje dei boleia até casa ao meu querido Jorge de quem , afinal , tinha tantas saudades ( sobretudo de estarmos um pouco os dois à conversa ,como noutros tempos em que as noites acabavam com o pequeno almoço ).

Hoje viveu-se mais um momento irrepetível no Coliseu dos Recreios. Tenho orgulho no trabalho de toda a equipa , mas confesso que não há nada como o primeiro amor , aquele que se guarda bem do lado esquerdo do peito e que , neste caso, foi , para mim, o primeiro concerto de todos , no Olga Cadaval.

2 comentários:

Pêndulo disse...

ai que inveja... realmente, gostaria de ter estado no Coliseu dos Recreios... mas pronto, o Lembra-me um Sonho Lindo do Porto já foi fabuloso... e com a sobrecarga de trabalho com que ando, fazer directas e ir trabalhar 9h seguidinhas é impensável...

mas a avaliar pelo que vi no Porto, os do Coliseu dos Recreios devem ter sido excepcionais (gostaria de ouvir o JM Branco a cantar aqui dentro da casa... ou o Palma, que também tem uma versão optima do tema com a Filipa Pais... :)))))))) )

um beijo

janica disse...

Obrigada por ires acreditando :)