terça-feira, julho 25, 2006

A cidade que se fecha...

Sempre considerei o Porto uma cidade mais europeia , mais cosmopolita do que a capital Lisboa , onde nasci e vivo.
Desde sempre o Porto abraçou projectos mais alternativos , inovadores e ousados , fugindo ao mais óbvio , ao mais comercial.
A vida da cidade do Porto era algo muito à frente.
Entretanto , o actual presidente da Câmara do Porto , Rui Rio , tem gerado grande polémica , apesar dos eleitores que o voltaram a eleger ( a alternativa socialista também não lembrava a ninguém ) , sobretudo para aqueles que se preocupam com a cidade. Anda de novo nas bocas do mundo , pois a autarquia anunciou que pretende concessionar o Teatro Municipal Rivoli a uma empresa privada , desvinculando-se, desta forma, do seu dever de Estado e deixando o Porto mais pobre culturalmente.
Eu , apesar de lisboeta , gosto do Porto e dos portuenses e por isso subscrevo: www.juntosnorivoli.com

Nos últimos tempos tenho tido possibilidade de conhecer melhor o concelho de Matosinhos e tenho sido surpreendida com o desenvolvimento da cidade, num sentido de abertura , de harmonia entre o mar e as gentes.
O Porto , no entanto , tende a fechar-se sobre si mesmo e , tenho pena...

2 comentários:

troianaa disse...

Bom dia Ana.
Desculpa a intromissão mas só queria deixar aqui um comunicado que o Dr. Rui Rio escreveu acerca do teatro Rivoli.
Sou do Porto, amo a minha cidade, os seus monumentos, a sua vida, os teatros e museus... Mas há alturas em que temos que ouvir com a cabeça e não com o coração.


RIVOLI : INCOERÊNCIAS DE «ESQUERDA»


Em Portugal, a despesa pública representa cerca de 50% da produção nacional, sem entrar em linha de conta com os défices visíveis e invisíveis das diversas empresas públicas. Chegamos a este ponto, porque apesar de haver consciência do problema em largos sectores da sociedade, quem assume cargos políticos não tem, normalmente, a coragem de fazer uma verdadeira racionalização estrutural dos gastos do Estado.

Está provado que a evolução negativa que o regime democrático sofreu, com um preocupante enfraquecimento do poder político legitimamente eleito, levou a que o Estado tivesse cedido a entrar em demasiados domínios que não lhe deviam dizer respeito. Dessa forma, asfixiou a denominada sociedade civil, acumulou défices sucessivos e foi aumentando os impostos de uma forma absurda e improdutiva. A agravar, temos todos consciência que, na maioria dos domínios em que lhe compete actuar, o Estado não é competente e presta, normalmente, um serviço caro, insuficiente e de qualidade inferior.

Por isso, quem estiver consciente destes estrangulamentos e se dispuser a assumir um cargo de responsabilidade política, tem a obrigação de ter a coragem necessária para procurar inverter esta grave situação e aumentar o potencial de desenvolvimento da nossa sociedade. Foi essa falta de coragem que levou a uma permanente cedência perante os interesses sectoriais e corporativos em presença e que, por consequência, atirou Portugal para o seu progressivo afastamento da União Europeia e para a degradação do nosso nível de vida, com particular reflexo nos extractos sociais mais desfavorecidos

Tive oportunidade de repetir este discurso vezes sem conta na Assembleia da República. Julgo que não terá valido de muito, mas, uma vez na Presidência da segunda cidade do País, tenho a obrigação de ser coerente e de não temer as criticas.

A verdade que devemos conhecer

Foi por isso, que o Executivo portuense decidiu entregar a gestão do Rivoli a uma entidade privada. No meio de alguma mentira que foi escrita e de muita verdade que foi escondida, julgo que faz todo o sentido que, apesar do regime vigente, o Presidente da Cidade do Porto, também tenha algum espaço para explicar as razões da decisão.

Seria bom que se soubesse que a Câmara do Porto gastou, no meu anterior mandato, 13,5 milhões de euros com os dois teatros municipais, o Rivoli e o Campo Alegre. Seria bom que as pessoas tivessem acesso a esta informação complementar : que, no mesmo período de tempo, gastou 5,5 milhões a reabilitar escolas, 6,9 milhões com a acção social, 6,5 milhões com a manutenção de todos os equipamentos desportivos e a promoção da pratica desportiva. Números do meu anterior mandato, porque se recuasse mais no tempo o cenário seria bem mais desagradável.

Só o Rivoli custou à Câmara 11 milhões de euros; 1500 contos por dia. E apenas cobriu com a bilheteira, 6% das suas despesas. O resto, 94%, foi pago pela Câmara ou seja, pelos contribuintes.

É pois esta a realidade que deu origem a toda a polémica.

Entre a hipocrisia, a histeria dos subsidio-dependentes, os fretes jornalísticos e, acima de tudo, o desprezo pela forma como se gasta o dinheiro público, de tudo voltamos a ver um pouco nesta polémica.

Fui eleito para cumprir o meu projecto e não o dos que perderam. Se fizesse o contrário estaria, cobardemente, a trair quem em mim votou.

A minha primeira prioridade é a Coesão Social; que se faz com investimento em áreas estratégicas que há muito defini e que, com clareza, submeti ao sufrágio dos portuenses. Não se faz gastando mais do dobro em espectáculos sem público, do que o que se investe na reabilitação de escolas ou na intervenção social.

Os que nos jornais e na Assembleia da República têm criticado os 1,8 milhões de euros que a Câmara despendeu com o seu programa Porto Feliz de combate à exclusão social, dizendo que é muito dinheiro, são exactamente os mesmos que, em paralelo, querem continuar a gastar, pelo menos, 11 milhões num teatro incapaz de gerar receita própria e de se abrir a toda a cidade.

Será, no entanto, gente que, sobre isto, tem um argumento mediaticamente fulminante que arrasa tudo o que aqui escrevi: «o Rui Rio não passa de um inculto economicista e nós, como somos de «esquerda», não admitimos que se duvide que estamos sempre do lado dos pobres.»




Rui Rio

Presidente da Câmara Municipal do Porto

Ana disse...

Olá Troiana :)
Até posso considerar os principios do Rui Rio muito correctos , mas o Teatro Rivoli poderia ter gerado receitas bem mais avultadas se a sua gestão tivesse sido diferente , apostando em projectos mais viáveis em termos de rentabilidade de bilheteira ( e isto não significa de forma alguma que sejam projectos de má qualidade ou de qualidade duvidosa ) . Como sabes , cheguei a realizar dois concertos da Mafalda Veiga no Teatro Rivoli ( um com o seu espectáculo e outro com reportório do Jorge Palma ) e de ambas as vezes a sala esgotou. A Câmara não comprou os concertos. Foi a Oficina da Ilusão e a Impar que os produziram e apesar da receita de bilheira não dar para ganhar dinheiro ( ter lucro ) , deu sempre para pagar as despesas da produção , o que significa que a sala poderia ter viabilidade , desde que a sua programação estivesse mais aberta aos portuenses e não a uma elite . O mal destas coisas é o funcionalismo público e os gostos e amizades pessoais de quem está à frente de cargos que exigem outra visão e outra dedicação.
Ainda esta semana fui contactada por um funcionário de uma Câmara do interior que pretendia realizar concertos acústicos no auditório , mas que não tinha verba para tal. Sugeri que tendo a Câmara tantos fornecedores , que tentasse arranjar patrocínios , ao que me respondeu que se estivesse no litoral tudo seria diferente . Ora esta canção do coitadinho que sofre com a interioridade é uma grande treta quando ao ligar-lhe após as 19h ( após o seu horário de expediente ) me disse : "Já não são horas de estar a trabalhar ! Agora estou na hora de lazer".Pois , quem quer ganhar o seu ordenado ao fim do mês , cumprindo estritamente com um horário de trabalho , não pode levar a bom porto o cargo que exerce... Estes , sim , estão sempre à espera de dinheiro do Estado ( do nosso dinheiro ) para mexerem uma palha.
E assim vai este belo país...
Beijinhos, ANA