sábado, março 12, 2011

Hoje, 12 de Março de 2011

SIM, quero ir para a rua gritar. Estou farta de precariedade. Estou farta de obrigações para com o Estado sem regalias sociais. Estou farta de trabalhar arduamente, não para viver, mas para ir sobrevivendo.Estou farta dos senhores do sistema! Mas os senhores do sistema não são apenas os do governo de José Sócrates. São todos aqueles que têm governado o nosso País desde o 25 de Abril, da esquerda à direita! São todos aqueles que se colam aos grandes grupos económicos sem produzir ( os tais boys dos jobs ). São todos aqueles que encaram o trabalho das 9h às 17h a ver os ponteiros do relógio a passar e que outrora passavam o tempo no café e que agora nem saem da secretária, agarrados ao facebook.

Lembro-me que quando Portugal entrou na CEE, a frase que tantas vezes repeti era: “ vamos pertencer ao grupo ecomómico europeu para continuar com ordenados e regalias sociais à portuguesa,mas passar a pagar à francesa, ou alemã, ou inglesa... ). Pois nem mais... para além da forma escandalosa como o dinheiro, que entrou na altura em Portugal, era o Sr. Cavaco Silva Primeiro Ministro, foi utilizado! A memória do Povo é realmente curta...

E a geração mais lesada com toda esta ganância do financeiro não é nem a geração rasca, nem a geração à rasca, mas a GERAÇÃO DO DESENRASQUE, como a denominava assim ontem uma amiga minha. A geração a que eu pertenço, a das crianças de Abril de 1974. E também a geração dos meus pais, que sonhou Abril e que o tornou realidade mesmo que por um dia ou uma semana, à conta de muito sacrificio e luta. E Abril tornou-se uma desilusão...

Por outro lado, NÃO quero ir hoje para a rua gritar. Não me identifico com os principios das manifestações de hoje, como a demissão de toda a classe politica ou o futuro desgraçado dos jovens. A classe politica é de facto uma cambada de gente que está no parlamento a defender os seus próprios interesses e não os do País e isso tem de mudar, mas não com uma anarquia, mas com mudanças profundas e não destituindo o governo de Sócrates para lá colocar o de Passos Coelho. Um movimento de cidadânia com gente séria e pensante e preocupada com Portugal é o que faz falta. Quanto aos jovens, até aceito que o futuro não lhes sorria, tal como não sorri para mim e para gente de mais de sessenta anos ainda muito útil à sociedade e com tanta ou mais capacidade de trabalho que a grande maioria dos jovens. Esta geração à rasca não é fruto do governo de Sócrates, nem é fruto apenas das anteriores governações. É fruto de uma politica educacional e cultural que pura e simplesmente não existe! Esta geração está à rasca porque nunca precisou de se esforçar para conseguir algo, porque os paizinhos ( nos quais me incluo de alguma forma ) deram-lhes tudo ( o possível e impossível )! Tenho tido oportunidade de lidar com muita gente jovem em termos profissionais e, francamente, de uma forma geral, falta-lhes pica, garra, convicção e principios. Ainda não perceberam que HOJE para chegarmos a algum lado com o esforço do nosso próprio trabalho, temos que dar muito, muito mesmo e não desistir porque o retorno financeiro não é equivalente à nossa dedicação. Há que ser criativo, persistente, mas sobretudo ACREDITAR! Há que arregaçar as mangas porque o suor é muito. É porque nem todos somos filhos e enteados e a bem da verdade o mal deste País tem sido esse compadrio de gente que pouco produz e que se pavoneia à conta do dinheiro do trabalho dos outros.

Mas SIM, EU VOU para a rua “libertar o grito que trago dentro” . E SIM , “ a luta é alegria “, porque não vai ser com depressões, cabeças metidas no buraco, com desânimo e queixumes do tão fado ( destino ) português que alguma coisa vai mudar. Também não é a chamar nomes aos politicos que a coisa muda. Isto só vai MUDAR quando PORTUGAL e os PORTUGUESES perceberem que não nos podemos acomodar nos sofás de nossas casas e esperar ainda que D.Sebastião nos venha salvar. Isto só vai MUDAR quando fizermos com que “ o futuro esteja nas nossas mãos “ e para isso temos que nos chegar à frente e tomar rédeas das nossas vidas, mesmo que seja preciso ir para a rua gritar.

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