terça-feira, fevereiro 05, 2008

Com LUZ , em Manteigas

A Lena foi à Disney com os miúdos e o Luis e não quis arriscar ir a Manteigas na véspera da viagem , pois nesta altura do ano , por aquelas bandas , nunca se sabe o que nos espera , mas o mais provável é um nevão que dificulte os acessos rodoviários.

Assim , no sábado , lá fui eu até Manteigas , matar saudades da equipa com quem mais de três anos fiz tanta estrada ! E não houve nevão, nem estava tanto frio assim. Já no domingo parece que a coisa foi diferente , mas eu já lá não estava.

Saímos cedo, de forma a termos tempo de almoçar em Valhelhas ( já no caminho de Belmonte para Manteigas ), no Vallécula, um restaurante pequeno, acolhedor e que só serve carne da região ( e eu, esqueci-me que o Cidão agora já não come carne :( ), muito bem confeccionada , com uns óptimos acompanhamentos. Não é o restaurante ideal de estrada , pois o proprietário é quem atende todos os clientes e o serviço tem o seu quê de demorado , o que não se coaduna com quem tem pressa de chegar. Talvez por isso , não simpatizámos lá muito com o homem , mas no sábado chegámos cedo e até nos despachámos de forma a estar em Manteigas às 14h , hora acordada :)



Há muitos anos que vendo concertos para o pavilhão de Manteigas , nesta altura do ano. Pensava ir encontrar daqueles pavilhões gélidos , horríveis e tive a agradável surpresa de , afinal, ser um ginásio , com chão de madeira , revestido com panos , de forma a tornar-se mais aconchegante.
Estava tudo em ordem com as questões técnicas , por isso deixei os técnicos trabalhar à vontade e , em não mais que uma hora , deixei todas as demais questões logísticas tratadas ( camarins , acessos , estacionamentos , etc ).

As dormidas estavam marcadas pelo escritório como havia sido possível , uns na Pousada de Manteigas , outros na de Belmonte e a equipa técnica de Lisboa ( nós ) no Meliá de Castelo Branco. É tramado marcar dormidas na Serra da Estrela nesta época de Carnaval , pois os hotéis só aceitam reservas de três noites e cobram um verdadeiro balúrdio , para além de ficarem práticamente cheios de um ano para o outro , o que siginifica que quando o espectáculo de um Artista é confirmado , a marcação do alojamento é sempre uma dor de cabeça !
O jantar também não é fácil , pois trata-se sempre de um grupo grande e os restaurantes estão cheios ! O Felisberto indicou-nos o Trenó , sobre o qual vi boas referências nalguns blogs , mas francamente ... é fraquinho , a todos os níveis ( ou nós tivemos azar ), apesar do proprietário ser muito atencioso.

Aproveitei para dar uma volta na feira , para comprar um genuíno queijo da serra ( da Alice Martins Sabugueiro Duarte ) , não só para levar para casa e a familia em Lisboa , como para deixar um no camarim dos músicos / técnicos e outro no do Pedro ( pois apesar do catering cumprir com o pedido , a qualidade ... ). Comprei também três variedades de pão ( Pão do Marco , não do Marco guitarrista , mas de Marco de Canaveses ) acabadinho de fazer e que estava uma delícia. Os enchidos , nomeadamente , os chouriços de carne deixavam muito a desejar , pois quase não tinham estado ao fumeiro , pelo que deixei-os ficar onde estavam.

Entretanto chegaram os músicos , os Bandemónio , a quem me sabe sempre bem dar “aquele” abraço. Fizeram-se os ensaios , fomos jantar ao tal restaurante que não encheu as medidas a ninguém e onde o Lebres passou a ser Febres ( ele ia comer febras e eu troquei-lhe o nome , risada , claro ) e como os hotéis eram longe , lá voltámos nós para o local do concerto , onde até se jogou à bola , enquanto se esperava que no palco secundário a banda de baile parasse de tocar o “Mexe, mexe que eu gosto “ e outras músicas tais que, com a reverberação natural do pavilhão, ainda se tornavam mais inaudíveis.

O Pedro chegou bem disposto , resolvido a não mudar o alinhamento, que no meu entender está feito para um público mais urbano , mas só me apercebi disso durante a sua actuação, pois ainda não tinha assistido a nenhum concerto com este novo reportório.

É claro que o papel de um Artista não é apenas o de “animar a malta “ ( o que também faz falta) . O papel de um Artista é também passar uma mensagem ao público e , falando do nosso Portugal , educar públicos ( e como ! ).
E em Portugal temos de facto um País profundo , aqui e ali , em todas as regiões. Profundo pela ausência de valores ? Não direi ausência , mas sim um choque de valores , um choque de culturas. E é aqui que a gota não joga com a perdigota. E não é o concerto do Artista que é mau ou o público ignorante , embora sejam estas as opiniões de um lado e do outro. E do lado do palco há uma vontade enorme de educar à nossa medida e do lado do público há aquela ideia “ este tipo está armado em quê ?” e um entrave a tudo o que é novo , diferente, que não faça parte das suas vivências quotidianas.
É complexo , mas é uma realidade com a qual se deparam os Artistas portugueses , sobretudo aqueles que acabam por actuar um pouco por todo lado ( porque é o mercado que temos ou que apenas não temos ).

Como pode estar um público receptivo a um espectáculo cujas canções são boas canções e abordam temas sociais e politicos que se vivem no nosso País e por todo o Mundo , quando antes e depois do mesmo , existe uma banda de baile a cantar um sem fim de músicas todas iguais , cujas letras não falam senão de amores e desamores de fotonovela ou engates rascas?

Só há mesmo três possibilidades :
- Não actuar neste tipo de eventos.
- Assumir o concerto tal como está delineado, por uma questão de acreditar no projecto que se apresenta e por se acreditar que ainda se podem mudar mentalidades por esse País fora , assumindo todo o desconforto que isso possa provocar.
- Já que não é possível vencê-los , juntar-se a eles , com tudo o que isso também implica.

O segundo foi o papel escolhido pelo Pedro e o espectáculo ficou muito aquém de tantos concertos que já presenciei seus , onde por mais que o público fosse difícil , o Pedro alterava o alinhamento e acabava a sua actuação sempre com o público rendido, aos seus pés.

Esta escolha do Pedro não terá sido a mais popular ou a mais confortável para ele próprio e os músicos que o acompanham , mas é uma atitude .

Talvez para a próxima seja diferente. No sábado foi assim.

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