Realiza-se todos os anos , em Santa Maria da Feira , por esta altura, fazendo cumprir uma antiga promessa a Deus que , se através de São Sebastião , este libertasse o povo da desgraça a que estava condenado por causa da peste , todos os anos seria feita uma procissão, onde raparigas honestas e pobres da vila transportariam pão ( fogaça ) à cabeça que seria oferecido às gentes necessitadas.
Este ritual realizou-se por muito anos sem que a peste caísse sobre a Feira, até que entre 1749 e 1753 deixou de ser cumprido e a desgraça voltou a atormentar as vidas das gentes da Feira.
Desde então que a tradição se mantém ( não vá o diabo tecê-las ! ).
As fogaceiras são, portanto , as meninas que transportam as fogaças ( pão doce , de forma arredondada , encimado por quatro bicos que representam as torres do castelo da Feira ) . As fogaças já eu conhecia bem ,pois a Profª. Cristina não deixa as tradições da sua terra por mãos alheias :/ Mas não há só as fogaças , há também os Caladinhos e umas bolachinhas bem boas, cobertas de açúcar ,que nunca falham , não é verdade ? Mas desta vez , também não escapou a fantástica marmelada da mãe do Sr.Jorge ,do restaurante Orpheu ( antigo Solar dos Condes de Fijó ) , um espaço acolhedor , com esplanada e vista para o castelo . A comida é bem confeccionada e , desde que não se trate de um grupo grande , é sempre bom ir até lá almoçar , como no passado sábado ,por exemplo.
E sábado , lá conseguimos chegar a Santa Maria da Feira , não com o carro que alugámos em Lisboa , mas de táxi , desde a área de serviço da Mealhada , com o Sr. Fernando que , afinal, é vizinho do Lois ( mundo ervilha , como diz a Ju ) e o seu salvador , sempre que o Lois adormece e perde o transporte para os locais dos concertos. É verdade , o Seat Toledo , ainda antes de Leiria fez um ruído estranho e deixou de desenvolver. Para não perdermos tempo , marcámos encontro com a assistência em viagem na área de serviço da Mealhada, onde o carro acabou por ficar , pois o tubo de escape soltou-se na parte da frente.
O Sr. Fernando foi um querido e lá almoçou connosco em Santa Maria da Feira , tendo , de seguida , deixado a equipa técnica no auditório do Europarque e eu continuei viagem com ele até ao Porto , onde fui buscar outro carro , ao aeroporto de Pedras Rubras.
Apesar deste contratempo , no sábado não houve nada contra o tempo e tudo decorreu com bastante tranquilidade e normalidade.
Carlos do Carmo finalmente actuou em Santa Maria da Feira , concerto que tinha sido agendado no inicio de 2007 para o Cine Teatro António Lamoso , que estivera marcado para dia 4 de Outubro , já no auditório do Europarque e , que , por motivos de doença foi adiado para dia 19 de Janeiro. O auditório de mais de 1400 lugares não esteve esgotado ( o Feirense jogava em Lisboa ! E também me parece que o auditório é muito fora de mão para os mais comodistas ) , mas esteve bastante composto , cerca de 1000 pessoas a aplaudir fervorosamente o grande senhor da canção portuguesa ( porque Carlos do Carmo não é somente um fadista , mas também um excelente intérprete de grandes compositores e poetas portugueses) , que está nomeado para receber o prémio Goya ( no próximo dia 3 de Fevereiro em Madrid ) , pela sua participação no filme “Fados” de Carlos Saura , interpretando o “Fado da Saudade” ( que concorre na categoria de melhor canção original).
Um bom concerto a que se seguiram inúmeras visitas ao camarim , mas duas em especial : a de um admirador galego que em Novembro estivera no concerto de Santiago de Compostela e um grupo de governadores da região da Extremadura espanhola, que se encontrava em Santa Maria da Feira , a convite de entidades locais.
É com alegria que tenho vindo a observar a forma especial com que os espanhóis apreciam e respeitam a cultura portuguesa , bem como a maneira como a acarinham. Mas é com tristeza que vejo os portugueses de costas voltadas para as suas raízes ...
Ás vezes penso que , afinal , o Saramago é que tem razão...
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