sexta-feira, outubro 26, 2007

Só mesmo na Ásia ...



Não sei qual a origem deste vídeo , mas que ele não é uma tanga , não é certamente.
Pode parecer irreal um mercado estar montado no meio de uma linha de comboio , mas na Ásia , sobretudo nas grandes cidades , todo o espaço é pouco ( nunca vou poder esquecer a Divisória em Manila ) . Como o ser humano tende a adaptar-se ao meio onde vive , pois trata-se de uma questão inerente ao Homem , a sobrevivência, o que pode parecer surreal aqui, não o é.
O povo oriental consegue viver em espaços mínimos e aproveitar cada cêntimetro ao máximo e , embora , tenha fama de gente pouco limpa , sou obrigada a ter que discordar, pelo menos de uma forma tão globalizante. É claro que a miséria existente que contrasta de forma dramática com a exuberância da riqueza , leva a que muita gente viva em condições sub-humanas , no meio de rios que são esgostos , de postos de alta tensão de um tamanho imenso, enfim... Mas há muito boa gente , aquela que tem conseguido levar uma vida simples , com dignidade , que vive em espaços inacreditáveis onde, confesso , que eu teria alguma dificuldade em manter a organização e limpeza do mesmo.

Lembro-me da primeira vez que fui a Macau , na companhia do Luis , em Junho de 1999. Resolvemos fazer um passeio matinal , a pé , pelas ruas da velha Macau . O calor apertava , com mais de 95% de humidade, como é tão habitual naquela altura do ano. O Luis não resistiu e decidiu cortar o cabelo. Lá demos com a barbearia , devidamente identificada por um sinal giratório , com riscas , normalmente colocado à porta. Entrámos directamente para uma pequena sala que não teria mais de 5m x 3m , com bancada de um lado e do outro , com duas cadeiras cada uma. Um casal já de uma certa idade recebeu-nos e , escusado será dizer que, eles só falavam cantonês , pelo que não nos valeu nenhum dos idiomas que aprendemos ao longo da vida para tentar dialogar com eles , mas o gesto e a expressão são de facto tudo o que é preciso para que haja comunicação. E assim foi. O Luis lá conseguiu que o velho cantonês lhe rapasse o cabelo “à máquina um” , que neste caso não se tratava de uma máquina , mas sim de um pente e o resultado foi o mesmo, embora mais demorado ( é que tempo é algo que se sabe apreciar naquele lado do mundo ) . E eu lá ia gesticulando e rindo muito com a mulher dele , mostrando o mapa de Macau , os locais por onde já tinha andado e os que queria conhecer. A certa altura , precisei de ir à casa de banho e lá me fiz entender. Ela levou-me até à única porta que existia naquele espaço , sem ser a que dava acesso à rua. E entrei ... entrei na segunda divisão da casa deles. Sim , a barbearia era a casa deles. De dia , a sala de entrada era barbearia , mas à noite , depois de tudo arrumado ( um pouco como neste filme ) e estendidas as esteiras , era o quarto onde dormiam. A segunda divisão da casa não só era a casa de banho que eu tanto precisava de usar na altura , como era também a cozinha ! E, assim , à partida , pode parecer horrível cozinhar-se no mesmo sitio onde se fazem as necessidades , mas estava cada coisa no seu lugar e pensado para o espaço de que usufruíam. E tudo limpo. Em vez de ficar chocada , fiquei surpreendida e a admirar aquele casal , humilde , com uma vida digna.

Mandaram-me estas imagens num mail que comentava que “ afinal Portugal é um paraíso “. Será ? Até poderá ser , se quisermos fechar os olhos a tanta miséria que está mesmo ao nosso lado, à nossa porta ... é tal e qual como pensar na Ásia , apenas pelos resorts de luxo existentes nas suas praias esplendorosas...

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