sexta-feira, março 16, 2007

Coisas boas que chegam com o sol

Adoro estes dias de sol , assim quentinhos. É que os pés ficam mais livres ( as botas de inverno vão para o armário ) , todo o corpo mais leve ( que bom voltar a tirar as camisolas de manga curta da gaveta ) e até ando mais feliz :/

É claro que durante a semana não tenho tempo para mais nada a não ser o trabalho no escritório e tenho chegado tão exausta a casa que só me apetece sofá e mais nada. Vá lá , ontem de manhã lá fui à escola do Mário e adorei assistir à aula de judo que foi gravada para o tal programa para a RTP e lá dei a entrevista , com a voz trémula , com as ideias a cruzarem-se todas na minha cabeça e a gesticular por tudo o que era lado. Aquilo que eu estava à espera , mas enfim ... até teve a sua piada :)

E do fim de semana na Póvoa de Varzim restam-me bons e inesperados momentos e tenho a certeza que o sol ajudou.

Toda aquela zona de Vila do Conde à Póvoa é banhada pelo mar e junto à costa existiam uma série de vilas pescatórias bem pitorescas, assim como belas vivendas/casas de praia. É pena que o desenvolvimento deste país esteja sempre aliado a uma total descaracterização paisagistica e consequentemente a um desapego de identidade. As novas construções desenfreadas de apartamentos de puro cimento junto ao mar , retiraram a estas terras a beleza de outras épocas . Durante muito tempo achei mesmo a Póvoa de Varzim um horror. É claro que o que foi não volta a ser , mas desta vez apreciei o trabalho que foi desenvolvido nos últimos anos na requalificação dos espaços junto ao mar , com um passeio bem arranjado desde a Póvoa a Vila do Conde. É claro que as torres de cimento estão lá em vez das vivendas ou das humildes casas de pescadores , mas pelo menos houve o cuidado de restabelecer esta ligação ao mar. E que mar bravo !

O edificio do Casino e o antigo Grande Hotel da Póvoa ( actual Mercure ) foram muito bem recuperados.





De resto, pouco mais pude apreciar , a não ser as grandes obras da avenida das galerias Euracini , onde no sábado de manhã fui cortar o cabelo , pois já não aguentava tanta pinderiquice. O cabeleireiro foi a Josefina quem mo indicou. Eu ia com a ideia de cortar e pintar de uma cor estrambólica qualquer , mas acabei só por cortar porque já não tive tempo para mais. A Mina , a cabeleireira, era um amor e conversa puxa conversa , acabou por não me deixar pagar a conta . E como o mundo tem alturas em que é mesmo pequeno , no salão estava uma cliente , cujos pais tiveram um restaurante no Rio de Janeiro , onde o Carlos do Carmo havia cantado há cerca de 20 anos atrás. Não resisti a oferecer-lhe dois convites e , como não a voltei a encontrar , espero que tenha gostado do concerto.

E era hora de ir almoçar. Na véspera tinha estado com o João Gobern a quem , óbvimamente , pedi conselho sobre o restaurante para o almoço de sábado : Ramon, em Vila do Conde , antes da ponte , quem vai pela antiga estrada nacional em direcção ao Porto ( vem no guia da Visão , com indicação de ser frequentado por muitos jogadores de futebol ) . Assim foi , não por ir à procura de um Victor Baía , mas porque a comida devia ser mesmo boa .
Não é dificil encontrar o restaurante para quem já lá foi uma primeira vez e para quem nunca tinha ido , só demorei mais tempo a encontrá-lo porque pensei ser mais próximo da ponte. É uma sala bem simpática e a comidinha recomenda-se. A fritada de peixe estava maravilhosa ( peixe bem fresquinho ) e o polvo assado tenrrinho , uma delicia ( era o mês do polvo por aquelas bandas ). Para sobremesa, não resisti ao bolo de laranja , sublime :/ E o preço tendo em atenção a qualidade até é muito simpático.
E ao almoço foi muito interessante conhecer um pouco o José Maria Nóbrega , guitarrista de fado que acompanha Carlos do Carmo há 40 anos. Um homem dos seus 80 anos , cheio de saúde e muito elegante. É claro que não pude escapar aos seus conselhos sobre alimentação . “Pode-se comer de tudo , minha filha . Deve-se é comer de 3 em 3 horas e às refeições não se deve beber água , nem refrigerantes. O que é aconselhável para acompanhar uma refeição é um belo copo de vinho tinto ou branco . E a melhor coisa que se pode fazer logo pela manhã , antes de qualquer coisa , é beber água “. Pois sim , se é isso que o mantém em forma , é melhor começar a seguir os seus conselhos.

E como a tarde era de folga , resolvemos dar um pequeno passeio por Vila do Conde , terra onde não ia há anos. Da última vez que ali estive foi ainda com o Carlos , um verão ( talvez 1993 ) , para uma reunião com a Câmara Municipal sobre a iluminação de monumentos. Um projecto que ficou por ali ... mas já nessa altura me tinha apercebido de que Vila do Conde , banhada pelo Rio Ave , tinha os seus encantos e sobretudo senti que havia o cuidado de preservar o seu património histórico.





De regresso à Póvoa , tomámos o caminho junto ao mar e não resisti a parar próximo de uma praia , onde se secava peixe. Bacalhau ? “ Não , não pode ser bacalhau. O rabo não é igual “ , dizia o Jorge , entendido na coisa , mas sem saber de que peixe se tratava , por isso , um bom observador.
Sentadas a apanhar sol no paradão estavam duas mulheres , a quem a Natália não resistiu a perguntar de que peixe se tratava . “ A senhora dá esmola aos pobres ? Então se dá , não é como este peixe . Este peixe é forreta “. Chamam-lhe forreta , pois trata-se de uma espécie de bacalhau , mais fino e com uma pele, tipo lixa, que tem de ser tirada antes de o colocar de molho. De resto até parece que é mais saboroso que o bacalhau e por ali é o que se come com pencas ( couve portuguesa) por altura do Natal.
Acabámos por ficar à conversa com estas mulheres uns bons 20 minutos e acabei por trazer para casa , de oferta da Clarisse , um forreta ( já pus de molho , mas ainda não comi ).
Estávamos , nem mais nem menos , em Caxinas , a vila pescatória de onde eram aqueles pescadores que morreram no naufrágio da Nazaré.
Soube , entretanto à noite , que a população natural de Caxinas é de origem nórdica, descendente de vikings ? E que é uma malta bastante fechada , que tem mesmo um dialecto próprio. Há uns anos atrás não era muito fácil um poveiro entrar no bairro para namorar uma moça de Caxinas , pois mal o avistavam , gritavam “ mouro à costa “.
Acho que a coisa agora é mais descontraída , pelo menos a avaliar pela querida Clarisse ( de traços realmente nórdicas , ao contrário da sua companheira ).




E com tudo isto regressei a Lisboa , logo a seguir ao concerto de sábado , contente pelos bons momentos passados e também com os dois espectáculos ( integrados no Festival da Lampreia , promovido pelo Casino ) que correram muito bem e onde dou por mim a ouvir canções da minha infância , como “ Flor de Verde Pinho “ , na voz de um grande senhor do fado, Carlos do Carmo , com quem tenho o prazer de estar a trabalhar.

PS :
Restaurante Ramon – Rua 5 de Outubro , 176/8 – 4480-739 Vila do Conde
Tel. 252 631 334
Encerra à 3ª feira.

5 comentários:

JCNunes disse...

a avenida em obras é a mouzinho albequerque

o mês do polvo é na Póvoa e não na Vila

é "nas" Caxinas e não "em" Caxinas

...correcções feitas, Parabéns pela crónica:-)

PS: Também sou um pareciador das músicas de CC

Margarida disse...

Adorei a crónica e o corte de cabelo também!
Beijocas

Ana disse...

Obrigada JC pelas correcções. É que estes poucos tempos livres não permitem ter um conhecimento profundo de tudo o que observamos e conseguimos apreender aqui e ali . E depois também não é feito um trabalho de pesquisa à posteriori por causa da mesma questão - o tempo.
Até breve , poveiro :)

Margarida , reencaminhei o teu mail para casa para o ler com atenção este fim de semana. Darei noticias. Um beijo.

Margarida disse...

Obrigada. Beijos

Lídia Amorim disse...

Há quanto tempo não vou até Caxinas...

A ultima vez que lá fui trouxe uma recordação...

Uma senhora muito simpática e também com um aspecto nórdico fez-me uma mala muito gira daquelas em tiras de tecido, típicas da zona... Ainda a tenho guardada.

Por acaso este fim-de-semana estive para ir atá lá, mas os planos mudaram e fui para Castelo de Paiva, acho que vai ficar para o próximo adoro Póvoa e Vila do Conde...

E talvez até siga a tua dica e vá até esse restaurante que me pareceu "apetitoso". eheheh

Bjitux!