sábado, dezembro 23, 2006

Sensações de Praga

Quando tenho oportunidade de fazer uma viagem , penso muito pouco em cidades e muito mais no espirito das gentes e no país no seu todo.
A Europa nunca é uma prioridade , talvez porque viva na Europa e sempre é mais fácil viajar em qualquer outra altura , mais tarde. Talvez porque em miúda tenha passeado muito de carro por alguns países da Europa com os meus pais . Talvez porque aos 17 anos fiz o meu interail. Talvez ...

... mexa mais comigo uma simples ida a qualquer ilha dos Açores , a Macau ou ao Brasil , terras que sinto “na alma e na pele”.

Desta vez , calhou Praga. Tinha milhas da TAP para usar , pois iriam caducar muito em breve , mas as mesmas só davam para uma viagem na Europa. O tempo para estar em qualquer lado também seria sempre curto. Então a escolha reverteu sobre Praga , não apenas porque sim , mas porque tinha ideia de que era uma cidade linda e só iria ter mesmo tempo para estar num só sitio , sem grandes aventuras. Mesmo assim , a viagem foi adiada e encurtada de 7 para 5 dias , mas tinha uma vantagem : não ia estar sózinha , ia poder visitar Praga na companhia da minha amiga Ju. E assim foi.

Gostei de conhecer Praga , apesar de só ter estado praticamente no centro da cidade , que seja verão , seja inverno está sempre repleta de turistas . E é pena. Gostaria de ter conhecido esta cidade com um espirito bem mais checo e menos turistico. Mesmo assim valeu a pena .

O centro de Praga respira História por todos os cantos e é verdade que ali nos sentimos no centro da Europa.
Praga é também , sem dúvida , a cidade da arquitectura e das artes.
Com um bom guia nas mãos não é dificil ficar a conhecer a cidade , que dispõe de uma rede de transportes muito funcional e eficaz.
Mas isto é o que qualquer turista poderá dizer sobre Praga.
Eu pouco mais terei a acrescentar, porque também eu me restringi a passear por Staré Mesto ( Cidade Velha ) , Nové Mesto ( Cidade Nova ) , Josefov ( Bairro Judeu), Hradcany ( Castelo ) e Malá Strana ( Bairro Pequeno ) e pouco mais . Também eu me restringi a contactar com os checos , aparentemente antipáticos , pois já não devem suportar aturar estrangeiros que não falam uma palavra de checo, nem um simples dobri dén ( bom dia ). Digo aparentemente antipáticos , pois na verdade eu até engraçei com aquela gente que , apesar , de serem bastante maiores que nós , são até muito parecidos com a nossa gente.

Tentei conhecer Praga para além da relação instituída com o turista. E observei as pessoas no metro , no tram , nas ruas... e contactei com algumas , perguntando mesmo como se diziam algumas palavras em checo e o mais engraçado é que quando eu as abordava com um dobri dén, elas continuavam conversa em checo como se eu fosse um deles. O problema é que eu não percebia patavina e lá tinha que recorrer ao meu inglês “macarrónico” , mas que nestes países onde esta língua é mal falada , até me saio bastante bem :/ E quando do lado de lá nem o inglês percebiam , então aí era uma festa gestual , de sorrisos , de expressões e é aí que tudo é bem mais genuino e engraçado.
E gostei das pessoas. São práticas , descontraídas , sem grandes pretensiosismos e também aqui o peso da sua História será certamente em grande parte responsável.

Saindo um pouco do centro da cidade , é curioso observar como esta continua com uma ordenação urbana com pés e cabeça e não o desgoverno que se vê nas nossas cidades e até mesmo já em pequenos centros urbanos.
A República Checa é uma jovem sábia e a sua integração na União Europeia bastante recente. Pode até nem ter ainda auto-estradas , mas pelo menos em Praga, há a impressão de que o país tem sabido desenvolver-se de forma inteligente e metódica , sabendo tirar partido da referida integração , o que com o nosso país não aconteceu e ponto final.

Não há assim nada que eu não tenha gostado de facto .

O que eu gostei de menos foi realmente o formigueiro de turistas pelas ruas da cidade , no qual eu me inclua fatalmente e também o molho checo que é demasiado adoçicado para o meu gosto e os dumplings , principal acompanhamento da cozinha checa. Também o facto de nesta altura do ano os dias serem demasiado curtos e são-no porque o sol nasce pelas 7h da manhã e põe-se pelas 16h ; aliás a esta hora já é noite. E o frio que afinal até se suporta, mas tudo seria bem mais agradável com uma temperatura mais amena , pelo que há que voltar noutra altura do ano , sem dúvida. E ainda, a falta de mar e de peixe de mar.

Gostei , claro , da cidade que é um museu aberto ( estou a roubar esta denominação a Monsaraz ) e na cidade , em especial , do Café Louvre onde se bebe um chocolate quente cremoso que dá cabo de estômagos como o da Ju , mas que não abala uma estrutura como a minha ( que haja alguma vantagem ) . De alguns restaurantes , todos em caves ( em Praga , restaurantes em caves são em regra geral bons ) , o Peklo , Clube dos Arquitectos e sobretudo o U Sadlu I , restaurante medieval onde me senti mais um viking que qualquer nobre ou burguês da Idade Média e isto porque é possível pedir uma mista de carnes servida numa enorme , mas enorme mesmo , bandeja repleta de nacos de diversas carnes e repleta de acompanhamentos dos mais diversos , nos quais se incluam os dumplings de toda a espécie. E em vez de pratos , são colocadas na mesa , travessas de aluminio iguais às que são usadas em Portugal para sevrir uma dose jeitosa de um qualquer restaurante no norte do País.
Excusado será dizer que cada uma dessas doses foi pedida para 4 pessoas e ainda sobrou comida , mesmo comendo mais que qualquer abade bem nutrido.
Gostei da loja do Museu Cubista , com serviços de chá de uma elegância extrema , mas com preços impensáveis para uma carteira como a minha. Gostei das simples decorações de Natal das ruas e das barraquinhas de madeira forradas com pano vermelho espalhadas pelas praças da cidade , com todo o tipo de artesanato e gastronomia local ( só o cheiro do vinho quente é que me fazia fugir ). Gostei das margens do rio , com espaço para agradáveis passeios . Gostei do Palácio da Indústria , uma construção em ferro fabulosa e da feira nele instalada ( e sobretudo as tais especiarias com aromas que são viagens ). Gostei das bancas de castanha assada. Gostei de ouvir a Orquestra de Praga na sala Art Nouveau da Casa Municipal ; uma acústica fabulosa e uma dinâmica entre músicos irrepreensível. Gostei , gostei e gostei.

Uma curiosidade é o peixe comido pelos checos sobretudo em época natalicia. Os checos comem carpas ( ! ) , aqueles peixões desesperados por respirar que se encontram em qualquer lago de um jardim em Portugal. Pois em Praga , existem bancas próprias para a venda deste peixe para consumo. Os peixes são mesmo grandes e estão dentro de alguidares produndos e largos , vivos , sempre de boca aberta por causa da falta de ar e definitivamente condenados.. Confesso , que estes peixes me impressionam imenso , mesmo quando os vejo nos nossos lagos , pois na verdade só comem porcaria e têm um ar tremendo.

E em cinco dias , na maioria do tempo noite , com muito frio , não foi possível apreciar muito mais ( valeu a Ju que estudou bem o guia e as linhas de tram e metro). Venho satisfeita e com as ideias mais arrumadas, mas não acredito que seja por muito tempo.

Agora , é rever um filme que eu adoro , “ A insustentável leveza do ser “, baseado na obra de Milan Kundera.

1 comentário:

Anónimo disse...

Praga é uma daquelas visitas adiadas de há uns anos... este ano um amigo meu esteve lá com a familia e fez-me uma inveja enorme... ao ler o teu post fiquei verdinha de inveja!!!!

2007 é mesmo um bom ano para ir a Praga esta visto... :-))))))