sexta-feira, maio 05, 2006

Dias diferentes

Os dois últimos fins-de-semana foram passados entre a Aldeia D’Eiras ( concelho de Mação ), numa casa da minha mãe , onde só vamos de tempos a tempos e... em trabalho. O que isto significa de facto é que andei sempre de um lado para o outro e pouco usufrui do descanso da aldeia ( ao menos a minha mãe e o Mário aproveitaram bem ).
O trabalho, esse , foi diferente do habitual...

Há cerca de um ano que os escuteiros da região de Viseu tentavam marcar uma tertúlia com a Mafalda Veiga , que acabou por ser agendada para domingo que passou , com direito a um passeio à DRAVE , uma pequena aldeia , de casas de xisto , escondida nas serras próximas de S.Pedro do Sul, onde se juntam três ribeiras. A mesma foi em tempos habitada pela familia Martins e hoje em dia , embora desabitada , não está abandonada. Pelo menos, todos os fins-de-semana do ano há gente na Drave e os escuteiros de Viseu têm feito um trabalho notável para recuperar a aldeia.





Os acessos são inacreditáveis. Para conseguir avistar a aldeia , tivemos de fazer uma viagem de jeep , demasiado cardíaca para o meu gosto , mas o pior foi mesmo a descida da serra ( a subida foi bem menos assustadora).
Os jeeps não chegam mesmo à aldeia , pelo que o resto da viagem foi feita a pé por entre um caminho de xisto envolvido em montanhas de textura ondulada ( que com o entardecer ganham contornos incríveis ) e cobertas de um manto roxo e amarelo próprio desta época do ano.
Na descida até à Drave e pouco antes de lá chegarmos , começámos a avistar as quedas de água , até que chegámos ...
Na aldeia vivia-se uma actividade escutista de um outro agrupamento e à medida que caminhávamos , lá nos íamos cumprimentando e falando uns com os outros.







A zona de acampamento fica de frente para as casas e entre elas a junção das três ribeiras e , de repente , uma vontade enorme de já não sair dali.
Há várias quedas de água e esta é limpida , fresca , uma delicia . Consegui controlar-me para não dar um grande mergulho , mas não resisti a beber daquela água.





Anoitecia e havia uma tertúlia marcada para as 22h na Capela de Sá , pois ali as noites arrefecem muito e convinha que tudo se passasse num espaço fechado.
Fizémos o caminho de volta até aos jeeps, desta vez, sempre a subir, mas fez-se; não, sem antes, a Mafalda se despedir de toda aquela gente ao som do “Restolho” ( música que integra imensos cancioneiros de escuteiros ).
Houve tempo para nos refrescarmos no hotel ( ficámos no Grande Hotel Lisboa , onde tínhamos um miminho da Isabel Silvestre à nossa espera no quarto. Convidámo-la para estar connosco neste dia , mas o imperativo da sua presença no Dragão não possibilitou que assim fosse ) e ainda para um belo jantar no restaurante S.Tiago , em Carvalhais ( o bacalhau com broa é imperdível ). Houve tempo para um pequeno ensaio. Houve tempo para tudo. Ali as horas passam sem pressa ... e a tertúlia teve inicio já depois da meia-noite.



Apenas os dirigentes do agrupamento de Viseu sabiam da presença da Mafalda naquele encontro . Os participantes na actividade , que incluia agrupamentos de diversas zonas do País ( Monchique , Montemor-o-Novo , Lisboa , Sangalhos , Canas de Senhorim , etc .. ) não sabiam que esta seria uma noite diferente e talvez por isso , tudo foi vivido com a emoção à flor da pele. Mais do que as palavras , foi a energia que ali se viveu que me tocou.
Valeu a persistência do Luis Rodrigues , assim como o empenho de todos os demais organizadores .

Este é um trabalho não remunerado , mas que me faz voltar a casa mais feliz :)
Já em 2004 tínhamos feito uma tertúlia com os escuteiros da região de Aveiro, no navio Santo André ,em Ílhavo , um dia e uma noite que também não vou esquecer ( obrigada Tiago e Zé Carlos ).

Neste encontro lá para os lados de S.Pedro do Sul , foi curioso encontrar tanta gente que ainda no passado dia 21 de Abril tinha assistido ao concerto da Mafalda no auditório Paulo VI, em Fátima.
Foi o primeiro concerto que fizémos este ano ( visto termos decidido que durante este ano iríamos apenas fazer espectáculos em salas e muito poucos ao ar livre ) , com a sala esgotada ( para lá das 2000 pessoas ) , cheia de gente nova , já cheia de saudades de ouvir a Mafalda ( e nós já cheios de saudades de estarmos com um público assim ).
O espectáculo foi promovido pela Diocese de Fátima-Leiria , para angariar fundos para um grupo de missionários que ficará permanente no Novo Redondo ( região do Sumbe em Angola ) , na pessoa do Padre Vitor Mira que se rodeou de jovens empenhados em que esta iniciativa fosse um sucesso e assim foi :)
A Mafalda preparou um espectáculo especial , onde interpretou temas que há muito não tocava e , para mim , é uma satisfação enorme poder fazer parte do seu mundo tão especial , onde o trabalho é sobretudo um prazer.
Para além disso , devo dizer que tanto ao almoço , como ao jantar , me deliciei com a cozinha da Tia Alice e do restaurante Charbonada.



É verdade que estas duas iniciativas foram promovidas por entidades ligadas à igreja católica ( que tem muito que se lhe diga ) , mas o que de bom se retira de tudo isto , são as pessoas que , independentemente dos seus credos , religião , cor politica ou futebolistica, sabem viver a vida e , sobretudo, têm a capacidade de dar aos outros e , eu , que não tenho tempo para nada , é nestas ocasiões que também acabo por dar aos outros um pouco mais de mim.

Logo no dia seguinte , a 22 de Abril , acompanhei também os GNR a Santa Maria da Feira , num espectáculo de solidariedade realizado num dos pavilhões do Europarque , a favor das novas instalações de apoio aos portadores de Trissomia 21 na referida cidade (onde também actuaram Pedro Abrunhosa & Bandemónio e os Ez Special), um evento que contava já com outro tipo de apoios institucionais e importantes Orgãos de Comunicação Social e , onde a CAUSA acaba por se perder ... Este é o tipo de solidariedade com que eu embirro , onde há de facto pessoas empenhadas e que se oferecem para trabalho de voluntariado , mas onde alguém lucra com o trabalho dessa boa gente...
Nós fomos lá pelas pessoas afectadas por essa doença genética , pelos seus familiares ( para quem a vida não é fácil ) e por todos aqueles que apoiam sem interesse estas familias.
As equipas técnicas dos GNR e Pedro Abrunhosa viajaram juntas , numa carrinha Traffic de 9 lugares ( daquelas à antiga , sem ar condicionado ) , para poupar despesas , o que acabou por ser uma diversão , sobretudo para os homens das luzes que passam o ano inteiro a ouvir os do som a falar APENAS de som ( é que nas equipas é normal haver 1 técnico de luz e 2 de som – um de frente e outro de palco ) e desta vez , vingaram-se durante toda a viagem de regresso a Lisboa :)



Este fim-de-semana esperam-me dois longos dias e noites na Queima do Porto.
Bora lá !

PS : Obrigada Maria e Ju pelas fotos.

4 comentários:

Sissa disse...

foi tão especial aquela noite em Sá.. :) foi tudo tão nosso ;D

Nekas disse...

Gostei mesmo de voltar à Drave, pelas tuas palavras. Drave é daqueles sítios que me inspira, pelo poder de estar mais perto do que é genuíno.

Uma música que se ouve em Drave:

"Ser Caminheiro
nos rumos do Homem novo
ser construtor,
de um mundo novo
caminhando no amor
ser Homem novo"

Um abraço*

joaosete disse...

de um outro escuteiro que passeia por aqui...

foi bom rever aquelas casas, aquele vale e aquela montanha a perder de vista...

de Drave para ti:

Venho do alto dos montes,
De onde correm os rios,
Que te enchem o olhar;
Trago na mão dois destinos,
Uma cruz e um amigo,
Um pedaço de luar;


E estes dias serão mil anos
Nas contas da tua vida;
E esta noite será eterna,
Uma chama que liberta o dia.
Partilhar o Sol de todos os dias,
Descobrir um sentido pr'aqui estar,
E ao olhar o vale profundo,
O Mundo gira invertido,
A vida toda num segundo,
E o Céu...agora é lá no fundo.

Anónimo disse...

Conheço muito bem a Drave, e aqueles montes por onde fiz caminhadas inesquecíveis com amigos e montanheiros. Alem disso sou um fã da Mafalda, e foi fantástico imaginá-la a percorrer aqueles trilhos, aqueles lugares de sonho, e ver as fotos aqui publicadas. Obrigado pela partilha.Abraço fechado