Há uns 20 anos atrás eu ia a Madrid , como quem vai ao Porto ( aliás eu ia mais a Madrid do que ao Porto , agora é que é ao contrário ). Nem mesmo o facto da distância ser a dobrar e de , na altura , a moeda ser diferente me impedia que assim fosse.
Era em Madrid que eu me encontrava com alguns bons amigos. Era em Madrid que eu assistia a grandes concertos . Era em Madrid que eu ouvia novos discos. Era em Madrid que me ia enamorando. Era em Madrid que eu curtia a sério.
Toda aquela “movida” era adequada à minha energia. Na época , havia um slogan que traduzia bem a vida na cidade “Madrid me mata”.
Passaram-se anos sem lá voltar,até que o Miguel se ligou à cidade , onde já vive há seis anos e ... tenho voltado , mesmo que menos vezes do que desejaria.
O motivo, desta vez , foi para estar em familia uns dias e , apesar de estarmos todos um bocado em baixo de forma , cada um com as suas mazelas , soube bem.
O Miguel vive no centro da cidade , num bairro bem castiço , na Calle Buena Vista ( com vista que se prolonga pela cidade abaixo e que se fora Lisboa acabaria no Rio Tejo ), entre Antón Martin e Lavapiés. É uma casa pequena , acolhedora e cuidada. Também nela há objectos de familia que me fazem sentir em casa ( em particular na mesa de cabeceira do seu quarto , onde aqueles objectos mais pessoais do nosso pai continuam a ser uteis e usados) e outros , como a sua colecção de vinil , que desta vez nem tempo tive de curtir um pouco aquele som único do disco a tocar no gira-disco ( que saudades desses tempos... ).
Madrid, por altura da Páscoa quase que pára ou não fossem as inúmeras procissões (que fecham as ruas ao trânsito para se encherem de gentes devotas ou apenas curiosos ), as lojas de chineses e indianos ( as únicas abertas aos feriados ), os restaurantes, as tascas de tapas e os clubes nocturnos. A cidade pode até parecer deserta , mas todos aqueles que estão em Madrid saem para as ruas , enchendo-as de vida e desde a hora de almoço até altas horas da madrugada a cidade não pára ( nem para a “siesta”) . A cidade emana uma energia única , cheia de salero , tão próprio de “nuestros hermanos” . Dá-me um prazer especial poder apreciar/viver tudo isso, mesmo que por estes dias tenha andado muito em baixo de forma ( de há uns tempos para cá que ando com uns problemas hormonais que me desgastam fisicamente e que tenho de voltar a resolver o quanto antes , porque não está a dar ).
Apesar dos programas não terem sido muitos, porque também o Mário não estava em forma ( tentámos ir ao Warner Park com ele e tivemos de regressar a casa , já depois de ter feito uma viagem de comboio até Pinto ), no dia do aniversário do Miguel , festejámos os seus 35 anos , na companhia de alguns bons amigos , num óptimo restaurante japonês ( onde o Mário deu cabo de um prato de sashimi sózinho ) e na vínicola , perto de sua casa – uma tasca tipica espanhola , mas com muito charme e onde se está muito bem.
Um re-encontro obrigatório é sempre com o Rodolfo , aquele amigo que teve sempre a sua casa aberta para me acolher e aturar e por quem os anos não passam , apesar de já ter passado os 50.
O Rodoldo é talvez a pessoa que eu conheço que mais entende de música. Passar um dia com ele é como ter estado um ano inteiro numa biblioteca , ou melhor , numa fonoteca.
Há mais de 20 anos que tem um programa de rádio chamado Trópico Utópico ( quantas vezes cheguei a assistir ao programa , em directo , no estúdio com ele e quantas outras a fazer parte do mesmo ) . Uma das suas novas facetas é PINCHAR , o que por outras palavras significa passar música , ser DJ sem fazer misturas.
Actualmente vive em La Latina ( perto do Rastro ) e passar um dia com ele no bairro é uma experiência única , pois fica-se a conhecer toda a gente e gente que faz de tudo ( desde tradutores , a actores , a realizadores , a jornalistas , enfim... ).
Viver a noite em Madrid com o Rodolfo é conhecer também aqueles lugares da cidade que só por um mero acaso são descobertos pelo turista (acidental). Desta vez , levou-me à Boca Del Lobo , um bar onde estava a “pinchar” o seu amigo Floro ( carteiro de profissão , mas um homem que dedica a sua vida aos discos e que nos seus tempos livres põe música em bares ou festivais ) e onde ouvi música fantástica , sobretudo alguma dos anos 70 ( não aquela comercial que todos conhecem , mas aquela mesmo boa , com sons de guitarra e hammond de delirar – como eu me lembrei do Alex ! ). Para terminar a noite , levou-me a um clube de jazz muito especial – é um espaço onde se ouve jazz , não ao vivo , mas em disco. Um clube reservado a sócios que se situa no 1º andar de um prédio , ou seja , num apartamento. Um local muito agradável para se estar , conversar e ouvir boa música . Nessa noite também lá estavam o Javier Bardén ( o melhor actor espanhol da actualidade) e o realizador Fernando de Léon ( responsável por uma série de filmes que nunca vi , mas sobre os quais o Rodolfo me falou e fiquei com imensa vontade de os ver ) – um momento imperdível certamente para a maioria dos espanhóis , mas que para esta saloia em que me tornei , uma convivência natural.
É sempre um prazer privar com este meu amigo e desta vez ainda lhe pude matar as saudades de um bacalhau com natas da Inês ( a minha mãe é uma cozinheira como poucas que conheço ) , num jantar em familia , em casa do Miguel.
De regresso a Lisboa , sinto o conforto de termos estado os 4 juntos ( a mãe , o Miguel , o Mário e eu ) . Sinto o conforto da amizade do Rodolfo. Por outro lado , a falta que o pai nos faz ... e essa saudade que parece não nos ajudar a arrebitar...
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