Para mim , o regresso a casa tem sempre dois sentidos que me dividem.
Sabe bem voltar ao nosso espaço , que no meu caso tem um bocadinho de cada viagem que faço. Sabe bem sentir aquele aconhego da nossa casa e daqueles que todos os dias nos aturam , mas que é tão bom abraçar quando se está uns dias por fora , pois o dia de chegada é sempre diferente , pela saudade e porque entendemos melhor o quanto essas pessoas são importantes para nós. Sabe bem poder dormir sem o barulho de uma cidade que não dorme . Sabe bem , muito bem , sobretudo enquanto a vida não volta ao ritmo normal , que nos faz alienar de tudo e de todos os que nos rodeiam.
Este , é para mim , também , um dos prazeres de viajar.
No entanto , deixar uma cidade como NY , que só na altura do regresso começamos mesmo a saber vivê-la , custa , muito. As minhas últimas horas naquele mundo de culturas , credos e sabores foram passadas na zona sul .
Saí no metro em City Hall ( resisti à tentação de ir ao ground zero ) e desci até ao rio , onde por momentos aproveitei o belo sol de primavera , num banco virado para o rio , junto à ponte de Brooklin – como soube bem a boa energia daquele sol e fumar um cigarrinho tranquila , um momento inesperadamente interrompido pelo treino de uma qualquer academia de policia que faz os seus exercicios matinais por aquelas bandas ( eles e elas de fato de treino azul e felizes da vida ).
Resolvi subir até Chinatown , sempre junto ao rio , até que na ponte seguinte ( cujo nome não me recordo ) entrei para o bairro , pelo lado de Market Street que ainda não havia “explorado”. E foi entre aqueles cheiros que me fui deambulando pelas ruas até serem horas de voltar de metro , pela linha 6 , de Canal Street até ao hotel , de onde estava combinado sair com a Mafalda para o aeroporto.
A viagem de regresso é para mim um horror , pois parece sempre que demora o dobro do tempo. Chegámos ao aeroporto com bastante antecedência , não fosse haver problemas de trânsito inesperados e para que o check-in não fosse complicado e não nos chateassem com algum peso extra que pudessemos levar. Essa étapa foi ultrapassada. O problema residiu na passagem da fronteira , onde temos que colocar todos os nossos haveres, incluindo calçado sem excepção e , eu fui levada para uma sala à parte , sem qualquer explicação e de forma abrupta , depois de terem escrito no meu cartão de embarque SSSS , sublinhado a caneta florescente amarela. Eu estava tranquila porque não tinha nada de ilegal comigo , mas confesso que quando a agente de cor , bem gordinha , colocou as luvas , assustei-me a sério – imaginei logo a minha integridade fisica violada e não resisti a perguntar o que se estava a passar. Foi aí que me disseram que há determinados cartões de embarque que são sorteados para este tipo de inspecção ( que para meu alivio não passou de uns simples apalpões ) e que eu não estivesse preocupada, ao que respondi que não era o caso , mas que queria uma explicação e saber o que me iriam fazer , visto nunca ter passado por tal situação. E que situação ! De seguida tomei dois ansióliticos e lá me aguentei até Lisboa , uma vez que dormi quase toda a viagem.
Nos próximos tempos vou poder assimilar um pouco melhor tudo o que vivi e vou poder curtir as minhas fotografias que ainda vão ser reveladas ( partilharei algumas aqui ) .
Viajar com outra pessoa com quem não temos o hábito de partilhar o nosso dia-a-dia mais intimo ( sobretudo o dos defeitos ) , é sempre complicado para ambas as partes , pois cada uma tem a sua forma de sentir e de estar.
Penso que a Mafalda e eu conseguimos gerir bem a coisa , com cedências de parte a parte ( das quais conseguimos tirar o melhor partido possivel ) e dar-nos espaço quando foi preciso.
Viajar com alguém é também tornarmo-nos mais cúmplices.
Obrigada , amiga :)
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