domingo, setembro 30, 2012

Por causa de tanta polémica à volta dos Homens da Luta


Há cerca de meia dúzia de anos atrás, quando os humoristas Nuno Duarte e Vasco Duarte, surgiram com os HOMENS DA LUTA, apontavam o dedo a tudo aquilo que ninguém parecia querer ver. Eram malucos.

O desmascarar das poucas vergonhas, o meter o dedo na ferida, foi uma luta verdadeiramente árdua, que aconteceu por força do empreendedorismo do Nuno e a sinergia única com o Vasco. E os dois homens da luta resolveram juntar-se a nove músicos e montar um espectáculo inspirado em tantos que aconteceram no pós 25 de Abril, na época da dinamização cultural, num processo natural dos personagens.

Com investimento pessoal  e com o trabalho de uma equipa de mais de 20 pessoas , foi possível  produzir  e levar o espectáculo dos Homens da Luta a muitos cantos do País, contra tudo e contra todos ( a esquerda entendia que o grupo não respeitava os valores de Abril, a direita entendia que eles eram comunistas e o PS nem queria ouvir falar deles ! ). Mas , de terra em terra , o público ( o povo ) recebia com praças cheias e com um imenso entusiasmo os Homens da Luta e lá se iam vergando as barreiras politicas ! Por esta altura, os Homens da Luta  eram gajos que falavam de assuntos sérios, mas com humor , despertando consciências e ao mesmo tempo fazendo com que por momentos fossem esquecidas as angústias do dia a dia.

Veio o 12 de Março de 2011 e os Homens da Luta encabeçaram de alguma forma o protesto, com a sua presença dinâmica e cativante, com a capacidade de mover milhares. É o momento em que muitos portugueses projectam nos Homens da Luta a salvação da Pátria !

No mesmo mês ganham o festival da canção com os votos do público e são catapultados para a ribalta pela Comunicação Social , nacional e internacional ! Uma verdadeira revolução ! Os Homens da Luta passam a ser os responsáveis pelo derrube do Primeiro Ministro José Sócrates. Os Homens da Luta passam a ser considerados pelos portugueses como um colectivo com deveres políticos. As mentes adormecidas despertam e transpõem agora para este colectivo a responsabilidade da defesa dos seus interesses e fazem-no individualmente, de acordo com os seus problemas e as suas frustrações.

Num momento nitidamente humorístico, em que os camaradas Neto e Falâncio felicitam Pedro Passos Coelho como novo Primeiro Ministro, muitos dos já seguidores dos Homens da Luta não entendem esta acção ! Então os homens da revolução afinal agora estão do lado do PSD de Pedro Passos Coelho ?

Desde então e ao contrário do que se diz, os Homens da Luta não estiveram parados. Deram concertos e estiveram em "prime time" num programa de televisão, com "sketches" diários, mas a verdade é que o ritmo abrandou, pois o momento politico e social obriga a reflexão, a muita reflexão mesmo. 

Entretanto, as gentes antes adormecidas ou preocupadas apenas com o seu quintal, foram obrigadas a despertar para tudo aquilo que os Homens da Luta foram alertando ao longo de meia dúzia de anos. Mas agora o humor não lhes chega, pois como nunca tiveram de travar batalhas nas suas vidas, não sabem como o fazer e pensaram que seriam os Homens da Luta a fazê-lo por elas ! E passou a ser mais fácil chamar-lhes palhaços.

Neste momento desgovernado , patético e desumano , neste momento desesperado e angustiante que o País atravessa, eu entendo que os Homens da Luta possam já não ser bem vindos, porque o momento não está para humor ou pelo menos para bons humores. Os portugueses querem mudanças que restituam dignidade às suas vidas e um futuro para o seu País e, isso, já lá não vai com canções. Mas quer queiramos, quer não, os Homens da Luta continuam a ter uma enorme capacidade de mobilização e a sua mensagem continua a valer mais do que a grande maioria dos discursos que têm sido feitos pelos opositores ao actual governo. Prova disso, foi a sua passagem ontem pelo comício da CGTP , não em jeito de acção de marketing e muito menos para meter dinheiro aos bolsos ! Mas cada um, entenda como quiser.

Assustador ? É de facto, o estado do País.


segunda-feira, julho 16, 2012

"Desrotinar"

Estes últimos dias, o volante do carro foi o meu maior cúmplice.


Fizemos para cima de 1600km, só ele, eu e os discos que esperavam ser ouvidos há meses  ( solitários na mesa de cabeceira do meu quarto ) e outros que levei comigo para voltar a ouvir e outros ainda que surgiram pelo caminho ;)


Desta vez, fui mesmo só eu a conduzir e deixei-me envolver por aquilo que a cada quilómetro e a cada paragem ia sentindo...


Foram tempos de família, de amigos, de mim própria, de trabalho e todo o tipo de emoção : surpresa, mimo, felicidade, alegria, nervos, tristeza, saudade, dilema ... loucura e cautela ... calor, frio, sol e chuva... noite e dia... tempos de sentir, de processar toda esta amálgama de sentidos e seguir caminho na perspectiva de encontrar outros novos.


Cansaço, nem pouco mais ou menos. Esse ficou na rotina.


De regresso a casa, só consigo sentir ALENTO.


A música, essa, foi a banda sonora destes dias...

Mão na Música ( Sérgio Godinho )“A música é tamanha, cabe em qualquer medida...”



Lume ( Mafalda Veiga ) – “... liberta o grito que trazes dentro e a coragem e o amor,mesmo que seja só um momento, mesmo que traga alguma dor...
( ZOOM é daqueles discos que primeiro se estranha e depois se entranha :* )



Capitão Romance ( Ornatos Violeta ) – “... parto rumo à maravilha, rumo à dor que houver pra vir. Se eu encontrar uma ilha, paro pra sentir e dar sentido à viagem, pra sentir que sou capaz. Se o meu peito diz coragem , volto a partir em paz...



Pode se remoer ( Adriana Calcanhoto ) – “ ... pode se remoer, se penitenciar, eu encontrei alguém que só quer me beijar...”



Feito pra acabar ( Marcelo Jeneci / Paulo Neves / Zé Miguel Winisk ) – “ ... a gente é feito pra acabar, a gente é feito pra dizer que sim, a gente é feito pra caber no mar e isso nunca vai ter fim.”



Mario ( Carles Benavent ) – homenagem ao realizador espanhol Mario Pacheco.


Aliás, é a banda sonora de todos os dias ;)

sábado, junho 16, 2012

Inter Rail 84 ( 1 a 31 Agosto )

Em Fevereiro de 2006, escrevi, sem publicar, estas memórias sobre o meu Inter Rail :*
Há poucos dias tive a oportunidade de ver o filme “ A residência espanhola” e uma vez que nunca fiz nenhum programa de Erasmus, só me conseguia lembrar da experiência mais próxima que tive, o “meu” inter rail. Confesso que tive uma vontade enorme de voltar a ser uma jovem estudante para fazer Erasmus, mas fico-me pelo facto de ter sido uma jovem estudante aventureira ;) Ainda não tinha 18 anos e decidi-me a fazer o inter-rail. Na altura, estudava no Sagrado Coração de Maria e não consegui companhia para a viagem. No entanto, dois anos antes tinha conhecido um grupo de austríacos, em Lagos, no Parque de Campismo da Trindade ( com quem vivi outras histórias para contar um dia ), com quem fui mantendo contacto. A Susie foi a pessoa de quem fiquei mais próxima e foi com ela que parti à aventura, mas de Lisboa a Innsbruck parti sozinha. Lembro-me de ter um diário, um bloco de capa dura de cor verde, oferecido pela minha amiga Paula Neves de Espinho ( de quem nada sei há muitos anos ), cheio de pormenores dessa viagem. Desse diário resta apenas a memória dele e algumas das histórias vividas. O que nunca pude largar, foi a declaração, assinada pelos meus pais, autorizando que a menor ( eu ) fizesse essa viagem, pois caso contrário teria sido recambiada para casa logo na fronteira com Espanha. Lembro-me de regressar do inter-rail um pouco desapontada com alguns momentos e locais por onde passei. Hoje acho que tudo foi tão enriquecedor! Hoje sinto o que aqueles dias foram importantes para ver o Mundo como ele é e não como o imaginamos dos filmes e da propaganda das agências de turismo.
Como já não tenho diário, vou tentar deixar aqui registado, pelo menos, os locais por onde fui passando e aqueles momentos que mais me marcaram e que guardo comigo até hoje. É capaz de ser um pouco extenso, mas também só lê quem quer .
Lisboa – Paris
Cheguei e tinha à minha espera a Caroline ( que havia conhecido dois anos antes e com quem ainda hoje mantenho contacto. A nossa história também é engraçada, mas hoje não dá para tudo). Acabámos por passar a noite num bar de jazz ( La Muse Gueule ), para os lados da Bastilha, onde actuavam músicos meus conhecidos, o Cató, o Telmo e o Fredo Mergner. Era um espaço sombrio e eles dormiam no andar de cima. Passámos a noite em amena cavaqueira até chegar a hora de seguir viagem até Innsbruck.
Paris – Innsbruck
À minha espera na estação estava a Susie e a sua querida mãe Ingrid. Fui recebida na sua casa com todo o carinho e não me posso esquecer nunca dos mimos da “minha mãe austríaca”, de quem guardo muita saudade e esteja ela onde estiver sei que estará bem. Todas as noites ela deixava um chocolate debaixo da almofada da minha cama, com um bilhetinho que dizia: sweet dreams :)
Foram dias de convívio com os amigos que havia conhecido em Lagos e em especial com o Patsie, que entretanto foi pai e por quem tinha uma paixoneta secreta (embora eu nunca tenha conseguido disfarçar essas coisas). Lembro-me dos passeios na cidade e também pelo campo ( que me fazia recordar a série da Heidi, ainda recente na minha memória ). Dos rios transformados em praias cheias de gente, sempre que o sol sorria um pouco. Da montanha cheia de neve em pleno verão. De uma tarde num SPA fantástico. Da possibilidade de uma noite ir ao Lago Di Garda, já em Itália, mas devo ter achado que era loucura a mais e deixei-me ficar por casa. Houve uma recordação que tive de trazer: um chapéu tirolês, que se perdeu algures no decorrer destes anos.
Innsbruck - Bologna - Brindisi
Partimos as duas de mochila às costas e tentando sempre que a viagem fosse de noite, de forma a evitar despesas com albergues, mesmo que da juventude. O melhor local para dormir era sem dúvida, no corredor do comboio. A viagem até Brindisi teve uma paragem algures já em Itália, mas finalmente chegámos a Brindisi, cidade de onde partiriamos para a Grécia, o grande motivo de tal aventura. Não foi fácil perceber como funcionava o esquema da compra dos bilhetes do barco e ainda mais dificil foi arranjar onde dormir, mas lá nos desenráscámos e no dia seguinte partimos para a Grécia.
Brindisi - Corfu - Atenas
Os bilhetes eram os mais baratos, aqueles que todos os “mochileiros” compravam – os lugares no deck, ao ar livre. Mas éramos jovens e nem o imenso calor do dia, nem o imenso frio da noite nos atormentava, até porque a imensa lua cheia nos sorria :*
Durante a viagem, toda aquela gente aventureira, sem destino ou sem preocupação pelo que o destino pudesse trazer, conheceu-se. Ao chegarmos a Corfu, o casal brasileiro ( ela chamava-se Carmen e era de São Paulo e ele já não me recordo ) com quem tínhamos navegado no Adriático, juntou-se a nós. A partir daí o destino era Atenas, cidade que eu imaginava que teria de ser exactamente como eu a idealizara. Seguimos confiantes, até porque o meu primo Pedro, que é diplomata, vivia em Atenas e à partida teríamos guarida em sua casa. Mas chegámos à cidade, julgo que, numa 6ª feira e não foi fácil encontrar a casa do Pedro. Quando por fim chegámos à morada certa, não estava ninguém em casa :( Lá conseguimos encontrar um alberge que tinha vários tipos de quarto ( camaratas, quartos de 4, 6, 8 pessoas, enfim, um sem número de opções) e uma rececpcionista que até falava francês. Decidimos pagar um pouco mais pela estadia para podermos ficar, os quatro, num quarto sozinhos.
Correu tudo bem e acordámos cheios de pica para conhecermos a cidade e, é claro, a zona histórica do Partenon. Eu adorei toda a zona envolvente e aquelas lojas cheias de produtos fabulosos, diferentes daqueles que havia em Portugal – consegui comprar uma série de lenços muito “freaks” e um cachimbo muito peculiar para o meu pai, que ele usou sempre com um carinho especial ( na época ainda não havia globalização e as mercadorias específicas de cada local só se encontravam nos seus países de origem ). Achei, no entanto, a cidade um caos e o esquema de transportes muito confuso. Os táxis não funcionavam como em Portugal. Eles iam parando e recolhendo passageiros pelo caminho e quase nunca cobravam o preço do que constava no taximetro, inventando uma verba fixa à qual ao fim de umas duas viagens me opus, dizendo que era estrangeira, mas que era portuguesa e não americana e sobretudo que não era parva. Não pagava em dólares, por isso que me cobrassem o que me era devido. Pareceu dar resultado... O momento mais especial em Atenas foi poder assistir ao ballet da Ópera de Paris, ainda com o Nureyev, no Teatro Dioniso, numa noite de lua cheia inesquecível.
No entanto, nessa noite tivemos uma surpresa no nosso quarto...mais hóspedes! Passei-me completamente com toda aquela gente, mas de nada valeu, pois a tal recepcionista que falava francês tinha desparecido e só se falava grego :( Por sorte, consegui falar com o Pedro que havia chegado do seu fim-de-semana e pouco tempo depois tínhamos um carro do corpo diplomático à porta do albergue para nos levar ( o pânico instalou-se entre os funcionários ). E assim, lá foram 4 “mochileiros” invadir a casa do Pedro por uns dias ( até hoje nem sei como lhe agradecer e como é que ele teve paciência para tanto). Com o Pedro conhecemos outra cidade e bons restaurantes, mas mesmo assim meti-me numa aventura sózinha com a Susie. Resolvemos ir ao Festival do Vinho a Dafni e de autocarro ! O pagamento do bilhete fazia-se colocando uma moeda numa caixa acrílica, mas achei estranho e por gestos ia perguntando ao motorista se a moeda seria de facto para colocar na tal caixa, ao que ele respondia algo como : “na,na” e abanava a cabeça como que a dizer NÃO. Mas era tudo ao contrário, “na” queria dizer sim e o abanar da cabeça dele também ! Lá chegámos ao recinto da festa do vinho, onde nos deram um copo, estilizado com figuras de Bachus,logo após termos pago o respectivo bilhete.
Foi uma noite divertida onde dançámos todas aquelas danças tradicionais com uma série de rapazes, que contrariavam todas as minhas expectativas do que seriam os homens gregos . Não eram altos, nem esculturais, nem de cabelo encaracolado. Na verdade, pareciam turcos. E era assim por toda a cidade – teriam ido todos de férias ou ter-se-iam tornado estátuas ?
E chegou a hora de regressar a Itália, fazendo o percurso inverso, mas de novo as duas sózinhas. O nosso destino era : Positano, na Costa Amalfitana.
Atenas – Corfu - Brindisi - Foggia - Nápoles – Sorrento – Positano
Ao chegarmos a Brindisi, o controle de passaportes foi duro e não sei porque motivo embirraram comigo. Fizeram-me esperar um bom bocado até me darem autorização para sair do barco. Até hoje não sei o que se terá passado, talvez o facto de ser menor ? No meio de toda aquela confusão encontrei a Nã, muito amiga da minha sobrinha Teresa; um encontro muito breve, pois havia que seguir caminho. Fomos de comboio até Nápoles, com paragem em Foggia onde passámos a tarde num jardim, onde uns miúdos malandros meteram conversa connosco. Mas eram mesmo crianças. Uma delas ofereceu-me um pequeno quadro com o desenho de uma boneca, com a sua assinatura por trás, que ainda hoje guardo. Mais uma vez dormimos no chão com os nossos sacos de cama. Recordo-me que a chegada a Nápoles ficou marcada por um nascer do sol grandioso, laranja vivo, como não voltei a ver outro igual. Do comboio passámos logo para uma camioneta que nos levou até Sorrento e depois uma outra que nos levou até Positano. E porquê Positano ? Por razão nenhuma em especial, apenas o facto da mãe da Anne-Marie, uma amiga austríaca da Susie, ter aí uma casa, onde simpáticamente nos albergou durante cerca de uma semana. Já na época, Positano estava ligada ao mundo da moda . Eram típicas as roupas com imensas flores . O namorada da Claudia ( mãe da Anne-Marie) tinha, inclusive, uma loja de roupa, por onde passávamos todos os dias, sempre que descíamos aquela encosta fabulosa até à praia.
A praia, essa, era de calhaus, ao que eu não achava grande graça, até porque sempre tive os pés sensíveis. Para além disso estava cheia de pescadores que não nos largavam, isto porque a Susie, sendo loira, era um enorme sucesso para aqueles homens tão rudes, tão diferentes dos modelos italianos que nos impigiam nas revistas, mesmo nessa época. Um dia, fomos dar um passeio de barco com a Claudia e uns amigos , pela costa, que é lindissima, onde demos uns fantásticos mergulhos –belo dia, esse. Passámos também um dia de loucos em Nápoles , pois era domingo e havia um grande jogo de futebol e na época o Maradona tinha acabado de entrar para o clube da cidade. Eram cartazes do Maradona por todo o lado e o trânsito um caos. Tenho pena de não ter conhecido melhor esta cidade e os seus recantos. De uma outra vez aventurámo-nos a ir sózinhas visitar Pompeia , sim porque eu não podia estar tão perto do Vesúvio e desta cidade, petrificada pela lava do vulcão, sem a visitar. Foi uma emoção pisar aquele chão, de tantas histórias que na altura eu lia. No entanto, foi uma desilusão ver aquele espaço tão mal tratado com escritos sobre os frescos e as paredes que restam das casas, com lixo por todo o lado – espero, francamente , que nestes últimos 20 anos , alguma coisa tenha mudado , para melhor. Para além disso , todos os objectos de interesse e os corpos petrificados que mais se conservaram , estavam em Nápoles e não ali. Fosse como fosse, aquele lugar mexeu comigo ...
Entretanto, a Susie estava saudosa do seu namorado, que acabou por se juntar a nós. E eu deixei-os a namorar e resolvi seguir viagem sozinha.
Positano – Sorrento – Nápoles – Nice – Barcelona
E assim foi até Barcelona , passando sempre as noites no comboio. A única paragem foi uma tarde em Nice onde encontrei um grupo de portugueses , as primeiras pessoas com quem estive e falei depois da minha saída de Positano. Não voltei a encontrá-los.
Barcelona – Madrid
Cheguei a Barcelona e o primeiro passo foi encontrar um quarto para dormir, mas não poderia ser muito caro. Lá me safei, num hotel junto à estação ( Hostal Santa Marta), onde fiquei num mini quarto, por um preço muito razoável. Aí sim, pude conhecer a cidade a meu belo prazer . Passeei-me por todo o centro histórico e visitei todo os museus que pude ( guardo bem na memória o Museu Picasso e o Museu Nacional em Montjuic ). Também passei uma tarde no jardim zoológico , isso já depois de ter estado na Sagrada Familia e na Calle Diagonal, a admirar as construções de Gaudi. Numa das noites, o Pi de la Sierra, tocava por detrás da catedral de Barcelona , num espaço ao ar livre devidamente preparado com plateia e fechado, de modo a puderem ser cobradas entradas ( ou seja , aquilo que se deveria fazer em tanta zona histórica do nosso País ). Eu já quase não tinha dinheiro, mas tinha de assistir ao concerto deste cantautor , que era tão admirado lá em casa, pela minha mãe. Tanto chateei os porteiros, que lá me deixaram entrar e, assim, tive a minha noite especial em Barcelona.
Os trinta dias de inter-rail chegavam ao fim, mas não me apetecia voltar já para casa. Tinham sido uns dias diferentes dos que eu esperava e na altura não estava muito convencida do sucesso desta viagem. Resolvi que a última viagem de comboio seria até Madrid, onde me esperavam sempre amigos que nunca vou esquecer.
Madrid – Lisboa
Neste relato da chegada a Madrid, a memória traiu-me, porque pelos vistos andei 2 dias já não me lembro por onde, dado este bilhete escrito que encontrei no caderno de viagem ;) Tudo o resto, confere.
E lá cheguei eu a Madrid, no último dia de validade do passe. Mas em Madrid eu tinha sempre a “minha” casa, a do Fernando Girão e da Madalena que me acolhiam com imenso carinho e amizade. A primeira coisa que fiz ao chegar a casa, em Legazpi, foi tomar um grande banho e quando a Madalena viu as minhas unhas dos pés até os seus cabelos ficaram em pé... Acabei por ficar quase uma semana, pois os dias em Madrid passavam a correr , isto porque eu vivia mais de noite que de dia , para dizer a verdade. Havia sempre concertos para ir ver , quanto mais não fossem os do Fernando. Havia o Oba Oba onde encontrava tantos amigos : Ruben , Foguete , Bida , Tarzan, enfim... Havia o Palmanegra da Angela e do Manolo. Havia tanto restaurante para conhecer com este e aquele amigo. E havia sempre o meu amigo Rodolfo ( e o seu programa Trópico Utópico” ) que nos anos a seguir me abriu a sua casa, que passou a ser mais uma casa “minha” sempre que ia a Madrid. E porque já era altura de voltar, comprei o bilhete de camioneta e voltei a Lisboa, com a ideia de que só Barcelona e Madrid tinham valido a pena. Como eu estava errada...
Passados mais de 6 anos, reencontrei o tal caderno verde de viagem que a Paula me havia dado ( e desde então também voltei a estar com ela), a tal declaração dos meus pais que me permitiu viajar mesmo sendo menor e também uma cópia do meu passaporte e o passe Inter Rail :)
Itinerário :
1 Agosto : Lisboa – Paris
2 Agosto : Paris – Innsbruck
9 Agosto : Innsbruck- Bologna
10 Agosto : Bologna – Brindisi
16 Agosto – Brindisi – Foggia
17 Agosto – Foggia – Napoli
25 Agosto – Napoli – Roma – Nice
26 Agosto – Nice –Port-Bou
27 Agosto –Port-Bou – Barcelona
30 Agosto – Barcelona – Madrid
Viagens extra :
Barco Brindisi – Corfu – Brindisi
Camioneta Corfu – Atenas – Corfu
Camioneta Nápoles – Sorrento – Positano - Sorrento – Nápoles
Camioneta Positano – Pompei – Positano
Camioneta Madrid – Lisboa
Passados mais de 6 anos reli o que escrevi e agora apeteceu-me partilhar, acrescentando algumas fotos e outros elementos que afinal não estavam perdidos :*

sábado, março 26, 2011

O Censos ignora a deficiência !

Já muito se falou do Censos 2011, mas agora que acabei de preencher todos os formulários e ainda o da minha mãe e o do Mário, encontrei mais uma questão pertinente : Não há deficientes em Portugal? O Censos nem quer saber se há deficientes em Portugal?

Isto só vem provar o desprezo que nos últimos anos tem sido dada à deficiência neste País e o fechar de olhos ao esforço que a grande maioria das familias que vive com esta realidade diáriamente tem de fazer para ultrapassar cada dificuldade; não só as que são estabelecidas pela natureza, mas sobretudo aquelas que a sociedade vai criando e as que a governação financeira impõe!

É uma esperança vermos a Bibá Pitá com a sua filha, portadora de trissomia 21, numa felicidade imensa, rodeada de irmãos e sempre nuns sitios aprazivéis. Fico feliz que assim seja e a Bibá, bem como toda a sua familia tem um mérito enorme pela forma positiva com que encara a vida e as suas adversidades. Mas sejamos francos! O facto da familia não ter problemas ( refiro-me a efectivas dificuldades ) financeiros é uma grande ajuda e por isso choca-me que o exemplo da Bibá e da sua filha sejam sempre apresentados, de forma a aligeirar as dificuldades reais e brutais com que a grande maioria dos portugueses, que tem familiares deficientes, vive!

Todos os meus amigos e conhecidos sabem que tenho um filho com 20 anos que é deficiente psico-motor. O que talvez alguns não saibam é que a sua incapacidade é de 80%. O que talvez alguns não saibam é que aos 6 meses, depois da triplex ( vacina que entretanto passou a ser administrada de outra forma ) ele perdeu o equilibrio e ficou ausente para lá de dois meses e que o prognóstico de alguns entendidos do desenvolvimento era que o Mário nunca iria falar, nem andar! O que talvez alguns não saibam é que estes 20 anos foram uma verdadeira batalha do Mário, minha e daqueles com quem tivemos a sorte de nos cruzar e que estiveram ao nosso lado, a lutar connosco ( refiro-me a familiares, professores , terapeutas, médicos e amigos ). Aos 6 anos o Mário começou a dar os primeiros passos. Hoje o Mário anda, corre, salta e fala, tudo à maneira dele, contrariando diáriamente os movimentos involuntários que teimam em não o deixar sossegado. Agora, aos 20 anos, o Mário conhece as letras todas e conhece os números, mas não lê (mas identifica algumas palavras ), nem escreve. Já não está na escola porque como não fez um acompanhamento escolar com equivalências, a partir dos 18 anos deixou de ter direito ao ensino, mas teve a felicidade de na altura certa abrirem vagas na Cerci de Chelas, ter feito entrevista e ter ocupado o lugar vago. Há dois anos que frequenta esta instituição, onde tem exercido várias actividades,para além das desportivas que mantém. Perguntam-me se era o que eu queria para o meu filho? A bem da verdade, não. Eu queria mais, muito mais e queria que, por exemplo, ele estivesse a frequentar a Cerci com a possibilidade de continuar a ter algumas horas semanais de estudo, insistindo na leitura, que é algo que eu sinto que está ao alcance de um simples clic. Queria, por exemplo, que ele estivesse na Quinta Essência. Ou melhor, queria não ter que me preocupar com dinheiro e poder fazer por ele tudo o que fosse importante para melhorar a sua qualidade de vida e para que ele pudesse ser ainda mais feliz :)

Eu não posso deixar de trabalhar e não posso dar-me ao luxo de sequer estar doente e apesar de ainda hoje os encargos mensais serem superiores ao que me vai sendo permitido auferir, eu ainda posso dizer que tenho uma boa vida com o meu filho! Mas sai-me do pêlo e o Estado nem quer saber, mas eu cá me vou orientando... o problema maior reside em familias com casos irreversíveis e de dependência extrema. É desumana a falta de apoios dados a estas familias e estes casos nem são considerados no Censos !

Pois não são considerados, não. Portugal não tem deficientes e se os tem isso não interfere na vida das familias e da sociedade. É mais importante saber se o alojamento tem água canalizada!

Neste Censos 2011 não há sequer uma alínea sobre se o inquirido é deficiente e qual a natureza e grau da mesma ! Eu preenchi o formulário do Mário e em todas as questões que não se adaptavam ao seu caso , apenas por ser deficiente ( não me refiro ao tipo de deficiência) , deixei muita informação EXTRA. E não me digam que não aceitam o formulário assim !

Já que Portugal é um desgoverno, ao menos que o seu sentido de Humanidade não seja também esquecido !

Cumpri o meu dever para com o Estado. Aliás, cumpro todos os meus deveres para com o Estado. Quando é que o Estado começa a cumprir comigo ?

sábado, março 12, 2011

Hoje, 12 de Março de 2011

SIM, quero ir para a rua gritar. Estou farta de precariedade. Estou farta de obrigações para com o Estado sem regalias sociais. Estou farta de trabalhar arduamente, não para viver, mas para ir sobrevivendo.Estou farta dos senhores do sistema! Mas os senhores do sistema não são apenas os do governo de José Sócrates. São todos aqueles que têm governado o nosso País desde o 25 de Abril, da esquerda à direita! São todos aqueles que se colam aos grandes grupos económicos sem produzir ( os tais boys dos jobs ). São todos aqueles que encaram o trabalho das 9h às 17h a ver os ponteiros do relógio a passar e que outrora passavam o tempo no café e que agora nem saem da secretária, agarrados ao facebook.

Lembro-me que quando Portugal entrou na CEE, a frase que tantas vezes repeti era: “ vamos pertencer ao grupo ecomómico europeu para continuar com ordenados e regalias sociais à portuguesa,mas passar a pagar à francesa, ou alemã, ou inglesa... ). Pois nem mais... para além da forma escandalosa como o dinheiro, que entrou na altura em Portugal, era o Sr. Cavaco Silva Primeiro Ministro, foi utilizado! A memória do Povo é realmente curta...

E a geração mais lesada com toda esta ganância do financeiro não é nem a geração rasca, nem a geração à rasca, mas a GERAÇÃO DO DESENRASQUE, como a denominava assim ontem uma amiga minha. A geração a que eu pertenço, a das crianças de Abril de 1974. E também a geração dos meus pais, que sonhou Abril e que o tornou realidade mesmo que por um dia ou uma semana, à conta de muito sacrificio e luta. E Abril tornou-se uma desilusão...

Por outro lado, NÃO quero ir hoje para a rua gritar. Não me identifico com os principios das manifestações de hoje, como a demissão de toda a classe politica ou o futuro desgraçado dos jovens. A classe politica é de facto uma cambada de gente que está no parlamento a defender os seus próprios interesses e não os do País e isso tem de mudar, mas não com uma anarquia, mas com mudanças profundas e não destituindo o governo de Sócrates para lá colocar o de Passos Coelho. Um movimento de cidadânia com gente séria e pensante e preocupada com Portugal é o que faz falta. Quanto aos jovens, até aceito que o futuro não lhes sorria, tal como não sorri para mim e para gente de mais de sessenta anos ainda muito útil à sociedade e com tanta ou mais capacidade de trabalho que a grande maioria dos jovens. Esta geração à rasca não é fruto do governo de Sócrates, nem é fruto apenas das anteriores governações. É fruto de uma politica educacional e cultural que pura e simplesmente não existe! Esta geração está à rasca porque nunca precisou de se esforçar para conseguir algo, porque os paizinhos ( nos quais me incluo de alguma forma ) deram-lhes tudo ( o possível e impossível )! Tenho tido oportunidade de lidar com muita gente jovem em termos profissionais e, francamente, de uma forma geral, falta-lhes pica, garra, convicção e principios. Ainda não perceberam que HOJE para chegarmos a algum lado com o esforço do nosso próprio trabalho, temos que dar muito, muito mesmo e não desistir porque o retorno financeiro não é equivalente à nossa dedicação. Há que ser criativo, persistente, mas sobretudo ACREDITAR! Há que arregaçar as mangas porque o suor é muito. É porque nem todos somos filhos e enteados e a bem da verdade o mal deste País tem sido esse compadrio de gente que pouco produz e que se pavoneia à conta do dinheiro do trabalho dos outros.

Mas SIM, EU VOU para a rua “libertar o grito que trago dentro” . E SIM , “ a luta é alegria “, porque não vai ser com depressões, cabeças metidas no buraco, com desânimo e queixumes do tão fado ( destino ) português que alguma coisa vai mudar. Também não é a chamar nomes aos politicos que a coisa muda. Isto só vai MUDAR quando PORTUGAL e os PORTUGUESES perceberem que não nos podemos acomodar nos sofás de nossas casas e esperar ainda que D.Sebastião nos venha salvar. Isto só vai MUDAR quando fizermos com que “ o futuro esteja nas nossas mãos “ e para isso temos que nos chegar à frente e tomar rédeas das nossas vidas, mesmo que seja preciso ir para a rua gritar.

sábado, dezembro 11, 2010

Doce amargo


Esta tarde fui confrontada com a falta de açúcar no Pingo Doce da 5 de Outubro e todos os supermercados ali à volta !

Parece que saiu mais uma daquelas noticias alarmantes nos jornais e noticiários televisivos e que o Povo, que está em crise, acorreu a estas superficies para arrecadar pacotes de açúcar, não fossem estes faltar no Natal !

Ao que parece cada cliente só podia levar 2 pacotes, mas quantas vezes terá lá ido a mesma pessoa ?

Só sei que às 18h não havia açúcar, mas lá consegui abastecer-me num supermercado madeirense que eu muito aprecio e onde não faria sentido algum faltar este produto :/ Mesmo assim não era permitida a compra superior a 3 unidades.

O açúcar não vai faltar no Natal , o açúcar já falta na maioria dos supermercados de Lisboa e imagino que nas outras grandes cidades estará a acontecer o mesmo !

Olha que boa forma de despachar stocks e de implementar a crise do açúcar para justificar um aumento de preço substancial !

É assustador pensar que isto pode acontecer com produtos de primeira necessidade,mas já estivemos mais longe dessa realidade. Eu ainda me lembro de tempos em que tinha de estar na fila do supermercado com a minha mãe para conseguirmos levar para casa certos bens essenciais...

O Povo ainda não percebeu que é ele próprio que alimenta a crise ?! É ele próprio que cava o seu buraco ?!

Arre, que nervos! Não gosto deste doce amargo.

PS :
Ora aqui está uma noticia sobre o assunto :
http://dn.sapo.pt/bolsa/interior.aspx?content_id=1731325

“money makes the world go around”, já cantava a Liza Minnelli …


Money make the world go round
Enviado por padock. - Veja mais vídeos de música, em HD!

domingo, novembro 21, 2010

Ora aqui estão 20 anos mais tarde...

Depois de ter passado uma tarde de domingo no Colombo às compras (a pior tortura que me podem fazer) para o Mário (prendas de Natal? Nem pensar, este ano não há!), ainda ando aqui, a esta hora, feita mãe galinha, a tratar da mala de viagem do "meu menino" que parte amanhã para uma colónia de férias no Zmar com a Cerci !


Estou a respeitar a lista de coisas que a Cerci pediu e que têm de caber numa só mala (ainda bem que não disseram o tamanho), a fazer o mapa de medicação cheio de pormenores e tudo o mais.
Para além do estipulado, decididamente, a máquina fotográfica vai ter de ir, pois parece-me que ele vai ser o fotógrafo oficial deste acontecimento - a sua primeira colónia de férias e logo na semana em que faz 20 anos! Também vai levar o telemóvel, porque aqui a mãezinha vai querer saber dele e dia 24 até vai passar o dia com ele, pois claro! Vou fazer greve à "minha maneira" :/

Esperei 20 anos por isto! O Mário vai finalmente para uma colónia de férias! O Mário vai finalmente ter uns dias de férias num sítio altamente e sem me levar com ele!
O meu menino cresceu. É um homem lindo :)))))

Carlos, onde estiveres, bem que podes ter orgulho no nosso filho e sorrir.
( tudo foi mais dificil sem ti, tudo é ainda mais dificil sem ti )
Beijos nossos para ti.