terça-feira, dezembro 02, 2008

“Fado Maestro “


É o primeiro “ best of “ de CARLOS DO CARMO, fadista que celebra este ano 45 anos de carreira e , para mim , é um enorme privilégio poder trabalhar com tão ilustre Artista ( e nobre pessoa ) e estar ao seu lado nestas comemorações que têm sido noites tão especiais , pelo que se vive em palco , o que se recebe do público e ainda por todas as histórias de uma vida tão vivida que vão sendo contadas nos serões após os concertos ( a fazerem-me lembrar as histórias não do fado , mas dos poetas , que o meu pai me contava com um espírito muito idêntico ).

Para comemorar estes 45 anos de forma muito especial , com todas as emoções à flor da pele , Carlos do Carmo preparou dois espectáculos .

O primeiro foi no Salão Preto e Prata do Casino Estoril no passado dia 3 de Outubro, no qual homenageou os músicos , executantes de Fado , da nova ( Ricardo Rocha , José Manuel Neto , Carlos Manuel Proença e Fernando Araújo ) e da velha geração ( Fontes Rocha , Joel Pina e José Maria Nóbrega ) , tendo ainda convidado o pianista e cúmplice de tantos momentos e canções o Maestro António Vitorino de Almeida e , por fim , António Serrano , um tocador de harmónica espanhol de grande sensibilidade , porque se enamorou do seu som e também como forma de agradecimento a Espanha pelo prémio Goya recebido este ano.
A Orquestra Sinfonietta de Lisboa , dirigida pelo Maestro Vasco Pearce de Azevedo integrou a segunda parte do espectáculo.

Os olhares da Joana Lima Rocha...











O segundo foi no Pavilhão Atlântico , em Lisboa , com lotação esgotada , apesar de alguns lugares vazios que se referem sempre e infelizmente aos convidados das entidades parceiras deste tipo de eventos.

Carlos do Carmo associou-se à celebração dos 125 anos da Voz do Operário , tendo a receita de bilheteira revertido a favor da referida Instituição, que tanto tem feito pela educação e a cultura em Portugal.

Arrisco dizer que este concerto foi pensado como se de uma peça em três actos se tratasse.

Para partilharem consigo o primeiro acto e homenageando desta feita as vozes , Carlos do Carmo convidou as jovens e promissoras cantoras Carminho e Maria Berasarte ( basca , com origens galegas , tendo-se feito acompanhar por José Peixoto na guitarra , Filipe Raposo no acordeão e Carlos Bica no contrabaixo ) e ainda os seus amigos tão especiais Camané e Mariza.

De seguida foi a altura encontrada pela direcção da Voz do Operário e pela Câmara Municipal de Lisboa , na pessoa do Presidente Dr. António Costa , para homeagear este grande Senhor do Fado , de Lisboa , de Portugal ( um género de intervalo ) . Não faltaram oferendas para guardar naquele cantinho especial lá de casa e nem mesmo um poema de Júlio Pomar , lido por Vítor de Sousa.

O segundo acto foi um momento muito pessoal , de coração aberto para as mais de 10 mil pessoas que se encontravam na sala – um encontro de gerações , uma passagem de testemunho de mãe para filho , de pai para filho , para neto... Sebastião partilhou com o avô o momento mais íntimo de todo o concerto , tendo-o acompanhado ( ainda que timidamente devido à sua tenra idade e experiência de palco ) à guitarra numa das canções mais emblemáticas da sua carreira “ Um Homem na Cidade “, seguindo-se Gil do Carmo que interpretou “ Madres de Goa “ e por fim , com o neto e filho ao seu lado, Carlos do Carmo cantou à desgarrada com a sua mãe , a grande fadista Lucília do Carmo ( recorrendo a uma gravação original e a uma tela de vídeo na qual eram projectadas fotografias de ambos ) – “ Não há Lisboa sem Fado. Não há Fado sem Lisboa “.

Por fim, abriu-se o pano e a Orquestra Sinfonietta de Lisboa dirigida pelo Maestro Vasco Pearce de Azevedo , acompanhados ao piano por Bernardo Sasseti ( também responsável por grande parte dos arranjos da orquestra para os fados de Carlos do Carmo ) , deram início ao terceiro acto , tendo este terminado com todos os convidados em cena a acarinhar este Homem que, vistas bem as coisas , foi o grande responsável pela democratização e renovação do Fado e que talvez por isso seja ainda hoje motivo de alguma polémica. Mas uma coisa é certa , é um Artista com letra maiúscula , um Homen de convicções e que acredita e ama aquilo que faz, alguém que quando está fora do seu País o representa com toda a dignidade , fazendo-me sempre ficar de lágrima no canto do olho. É claro que ao seu lado tem uma grande mulher , a Judite, que foi arrastada para o palco pelos “malandros” do Camané e da Mariza para um abraço e um beijo verdadeiramente cúmplices.

Foi uma noite histórica. Deu muito trabalho , mas estou mesmo contente e orgulhosa por ter feito parte dela.

Os olhares de Rita Carmo / Espanta Espíritos ( do site da revista Blitz ) ...




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